A FARSA NATALÍCIA
Chegado o mês de Dezembro, reencontramos mais uma doce quadra natalícia com o sabor da amizade, da confraternização, da solidariedade, da comunhão, da paz, da introspecção.
Num certo sentido, não nos podemos queixar do Pai Natal Sampaio, que nos acomodou providencialmente algumas prendinhas no sapatinho... mas não com pouca dificuldade, dada a fuligem que trazia no casaco e as pedradas desferidas pelos donos da casa.
Porém, o Natal enferma cada vez mais de algumas premissas que me deixam doente, exasperado e saturado. Começo a odiar o Natal!
Não sendo eu um crente, entendo esta quadra como apenas mais um momento do ano, que por razões absurdas (do meu ponto de vista) é investido de alguma essência fundada nas recordações e socializações de infância. Digo razões absurdas porque o Homem é ele mesmo absurdo: se os pressupostos do Natal convertem-no supostamente, numa experiência tida como bela, positiva, reconfortante, então nesse caso, que razão, senão uma razão absurda, pode negar essa experiência nos restantes meses do ano? Mais, não só nega como ao se permitir o contrário – a negação dessa experiência – torna-a paradoxal. E disso temos profundos e diários exemplos, os quais nem sequer é necessário fazer qualquer tipo de esforço para enumerar.
Ora, longe de ser aquilo que falei no primeiro parágrafo, o Natal da maioria das pessoas em Portugal e no mundo ocidental, é o Pai Natal da Coca-Cola, da Fisherprice, do Toys'r'us, do Imaginarium, do Paco Rabanne, da Zara, do Centro Comercial Colombo, do Free Port de Alcochete, dos filmes da Lusomundo, etc. O Natal varia consoante as necessidades das pessoas, se há um par de décadas ainda se oferecia comida e agasalhos, hoje as nossas necessidades deixaram de ser fisiológicas ou primárias e passaram a ser aquilo que Marcuse muito bem designou de necessidades artificiais, engendradas pela cultura, ainda por cima, pelo lado mais hipócrita da cultura dos humanos.
Em todo o lado há Natal, por tudo quanto é canto, vejo e oiço referências alusivas ao Natal, seja nos jingles da rádio e da TV, seja na rua, nas casas das pessoas, nos sorrisos irritantemente amarelos. É absolutamente claustrofóbico!
Como se não bastasse, este «Natal» começa substancialmente mais cedo e estende-se para lá do dia de Reis, obrigando-me a aturar por todo o lado esta imensa histeria, esta imensa subjugação a que estão sujeitas as pessoas, incapazes de refrear o ímpeto tresloucadamente consumista. Pergunta típica do repórter de TV na baixa do Porto: «então, quanto é que já gastou?».
E de tal forma inculcado nas nossas referências que se for sem prendas, o Natal é um ultraje, potenciador dos mais mesquinhos sentimentos entre as pessoas e que durarão até ao próximo Natal, altura em que se poderá confirmar ou não a falta de espírito natalício daqueles somíticos e egoístas seres que corporizam a também vendável ideia do Scrooge.
Para completar o ramalhete, há um subsídio de Natal (para quem o tem, naturalmente), feito à medida do consumo desenfreado; como se as pessoas só comessem no mês de Dezembro. Talvez esse subsídio pretenda premiar as pessoas pelo bom comportamento que têm durante o resto do ano…
Que fique claro, não sou contra este subsídio (também beneficio dele) embora tenha dúvidas quanto ao modelo de redistribuição.
Mas sou contra os baixos salários de muita gente em Portugal, daquela que não se vê da janela do BMW;
Sou contra as pensões medíocres que são mendigadas pelas pessoas que contribuíram para disponibilizar tudo o que nós hoje temos. Pessoas que simplesmente deixaram de ser úteis!
Sou contra a parasitagem, que nós ocidentais promovemos no Hemisfério Sul para podermos ter este status quo, construído à custa da miséria e pobreza dos outros.
Chegado o mês de Dezembro, reencontramos mais uma doce quadra natalícia com o sabor da amizade, da confraternização, da solidariedade, da comunhão, da paz, da introspecção.
Num certo sentido, não nos podemos queixar do Pai Natal Sampaio, que nos acomodou providencialmente algumas prendinhas no sapatinho... mas não com pouca dificuldade, dada a fuligem que trazia no casaco e as pedradas desferidas pelos donos da casa.
Porém, o Natal enferma cada vez mais de algumas premissas que me deixam doente, exasperado e saturado. Começo a odiar o Natal!
Não sendo eu um crente, entendo esta quadra como apenas mais um momento do ano, que por razões absurdas (do meu ponto de vista) é investido de alguma essência fundada nas recordações e socializações de infância. Digo razões absurdas porque o Homem é ele mesmo absurdo: se os pressupostos do Natal convertem-no supostamente, numa experiência tida como bela, positiva, reconfortante, então nesse caso, que razão, senão uma razão absurda, pode negar essa experiência nos restantes meses do ano? Mais, não só nega como ao se permitir o contrário – a negação dessa experiência – torna-a paradoxal. E disso temos profundos e diários exemplos, os quais nem sequer é necessário fazer qualquer tipo de esforço para enumerar.
Ora, longe de ser aquilo que falei no primeiro parágrafo, o Natal da maioria das pessoas em Portugal e no mundo ocidental, é o Pai Natal da Coca-Cola, da Fisherprice, do Toys'r'us, do Imaginarium, do Paco Rabanne, da Zara, do Centro Comercial Colombo, do Free Port de Alcochete, dos filmes da Lusomundo, etc. O Natal varia consoante as necessidades das pessoas, se há um par de décadas ainda se oferecia comida e agasalhos, hoje as nossas necessidades deixaram de ser fisiológicas ou primárias e passaram a ser aquilo que Marcuse muito bem designou de necessidades artificiais, engendradas pela cultura, ainda por cima, pelo lado mais hipócrita da cultura dos humanos.
Em todo o lado há Natal, por tudo quanto é canto, vejo e oiço referências alusivas ao Natal, seja nos jingles da rádio e da TV, seja na rua, nas casas das pessoas, nos sorrisos irritantemente amarelos. É absolutamente claustrofóbico!
Como se não bastasse, este «Natal» começa substancialmente mais cedo e estende-se para lá do dia de Reis, obrigando-me a aturar por todo o lado esta imensa histeria, esta imensa subjugação a que estão sujeitas as pessoas, incapazes de refrear o ímpeto tresloucadamente consumista. Pergunta típica do repórter de TV na baixa do Porto: «então, quanto é que já gastou?».
E de tal forma inculcado nas nossas referências que se for sem prendas, o Natal é um ultraje, potenciador dos mais mesquinhos sentimentos entre as pessoas e que durarão até ao próximo Natal, altura em que se poderá confirmar ou não a falta de espírito natalício daqueles somíticos e egoístas seres que corporizam a também vendável ideia do Scrooge.
Para completar o ramalhete, há um subsídio de Natal (para quem o tem, naturalmente), feito à medida do consumo desenfreado; como se as pessoas só comessem no mês de Dezembro. Talvez esse subsídio pretenda premiar as pessoas pelo bom comportamento que têm durante o resto do ano…
Que fique claro, não sou contra este subsídio (também beneficio dele) embora tenha dúvidas quanto ao modelo de redistribuição.
Mas sou contra os baixos salários de muita gente em Portugal, daquela que não se vê da janela do BMW;
Sou contra as pensões medíocres que são mendigadas pelas pessoas que contribuíram para disponibilizar tudo o que nós hoje temos. Pessoas que simplesmente deixaram de ser úteis!
Sou contra a parasitagem, que nós ocidentais promovemos no Hemisfério Sul para podermos ter este status quo, construído à custa da miséria e pobreza dos outros.
Sou contra o Natal da maior árvore de natal da Europa!Esta então até me enriça a espinha...
1 comentário:
SIM, XANDOCA, FAÇO MINHAS AS TUA PALAVRAS! MAS MESMO Ñ SENDO CRENTES,[(ENTENDA-SE CATÓLICOS!)POIS TODOS CREMOS EM QQ COISA, NEM QUE SEJA NA HUMANIDADE], O Q IMPORTA RETER É O SEGUINTE: O MAIS IMPORTANTE VOTO DO NATAL É DESEJARMOS PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE!
Ñ SÓ A ESSES, MAS TAMBÉM!
P.S. > JÁ COMPRASTE A MINHA PRENDA?
Ass: BARRETOVSKY
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