30 de julho de 2005

CRESCEMOS JUNTOS




Sonhei contigo nessa noite em que te reconheci bailarina, qual graciosa executante do Bolshoi, como que suspensa em intermináveis rodopios. Postura erecta, queixo delicadamente erguido, compensando generosamente os movimentos de um corpo bem proporcionado, sólido. Katrina te nomeei, guiado talvez por um ancestral instinto predador. Que não... suspeitei... não teria essa sorte e havias de te chamar outra coisa qualquer.


Kathara, A Pura, soube depois. Alguém me sussurrou ao ouvido. Talvez o tivesse descoberto afinal, pelos meus próprios meios, com o decorrer dos tempos e o tranquilo mar que nos coube navegar. Porto de abrigo terno e acolhedor, defensor do mar revoltoso e áspero das vidas. Vidas amarguradas, sobreviventes.
Mas assim ficou sentenciado. Tu Kathara, eu Alexein, outrora «defensor da humanidade».

Nos dias que se seguiram, colocava-me estrategicamente à porta do «Oficina», jeans arregaçados, sandálias de couro e t-shirt às riscas, tingidas de um verde meio consumido pelo tempo. Fingia que dava atenção aos que me rodeavam e às conversas rotineiras, remotamente perceptíveis no meio de tão intenso desassossego que insistia em me abrasar as vísceras, consumir por dentro. Fantasiava ansiosamente com a tua presença, se darias por mim, e a oportunidade de contacto como algo se escapulisse da tua mão e eu segurasse, ajoelhando-me se necessário. Suspirava para que reparasses enfim nesta triste carcaça e pudesse mobilizar a tua atenção...

Apesar da «má imagem» do primeiro dia na Universidade (uns anos antes) vim a saber que até não desgostavas da peça, tez morena acentuada pela barba negra e bolsa ao tiracolo cheia de nadas. Essa figura que, esmagada contra a parede branca te seguia irritantemente com o olhar agudo de rapina esfrangalhada. Eu, deixava-me ir, desconcertado pela suave brisa deixada pelo carocha que deslizava Rua da Moeda abaixo, fitando nos olhos esse preto de língua de fora que ia deixando orientadores trilhos de saliva. O meu coração dilatava e contraía ao ritmo dos solavancos do «bogas», até este se perder de vista. Até depois de o perder de vista. E abandonava-me a pensar que belo amigo para a minha «JEnny» de 1985. Que par! HElio e JEnny. Além disso, «o cão precisava de um disciplinador masculino, que raio»...
Por essa altura, as rotineiras conversas já haviam há muito dado lugar ao silêncio. Aquele silêncio observador de aprovação, pelo ressurgir de um brilho nos olhos.

As coisas começaram a ficar sérias. O Vivi estava do meu lado, que era o nosso. Seria o «padrinho», isso era ponto assente! E numa dessas noites, ficámos plantados no «Kalmaria», eu de um lado, tu do outro, a esgrimir trémulas iniciativas, povoados por receios infundados e absurdos, numa troca de olhares alheada de tudo o que nos rodeava. Impacientaste-te mas encheste-te de força. Que «o tipo não se decide» murmuraste entre dentes cerrados para os teus botões com nomes. Acabámos a falar de patetices, embriagados de impertinente emoção, vozes embargadas de vontade de viver, entre sorrisos tolos e desorientados choques de mãos. Ocasionais, ingénuos, militantes decerto.

A semana seguinte, passamo-la sentados nos poiais da Rua da Moeda, falando de tudo menos de política, que te aborrecia. Agora já não. Que até já votavas. E davas-me força para quem sabe, um dia vir a ser um deles e mudar o mundo, como impunham os nossos valores, as nossas concepções e convicções.
Eras independente, serena e pura. Foi assim que te vi, Kathara. E assim permaneces.

Tudo se precipitou naquela noite de 14 de Julho quando alguém teve a oportuna ideia de ir para a barragem do Divor. Esbocei um sorriso. Preparei antes uma pequena bolsa cheia de pedras e conchas que havia recolhido criteriosamente nesse dia, na praia, a pensar em ti. Sabia que gostavas de coisas simples. Percebi-o nos teus olhos. Neles penetrei e fechei-ta na mão. Ainda a conservas. Não conheço melhor guardião de memórias e não cessas de me surpreender.

Mais tarde, enquanto chapinhava na água morna matizada pelo luar com o padrinho exultante, senti que tinha ali amiga para toda a vida. Já me tinham dito que seria assim. Não fiz ouvidos de mercador. Detive-me por momentos com a água pela boca e espiei-te atentamente. Organizaras com as «bolinhas», uma recolha de paus e folhas para nos preparar uma fogueira. Não podíamos arrefecer, correndo o risco de nos constiparmos. E afinal, eu eras tu, já o sentias nessa altura.

Por falar nisso, contigo aprendi também que com a saúde não se brinca. Passei a estar «sempre alerta» e até já levo protector solar para a praia e evito os molhos (não todos como sabes). Passei a comer peixinho bom, as tuas couves e a adorar as migas da tua mãe. A tua mãe, o teu pai, a tua família, que é a minha e a minha é a tua. Como te amam e como os amo. «Tia Fiuza, o Álexandre?», «Canina, Canina! Comi, Pedro», «Veja lá Catarina se está bom de sal», «Cati, quando voltas para cima?».

No retorno dos primeiros raios de luz que alumiaram a aurora desse benevolente 15 de Julho, apeei-me do carro no mesmo sitio que tu. Ficaste estarrecida mas não desarmaste. Convidaste-me a entrar e depois de um copo de água nervosamente equilibrado nas palmas das minhas mãos, precipitamo-nos bruscamente e encontramo-nos no mais belo e emocionante abraço. Singelo, delicado, irrepetível. Só isso. Chorei de alegria. Tu sentada, eu ajoelhado. Com ele selámos as nossas vidas, eu fiquei tu e tu ficaste eu. Demos as mãos para não mais as largar.
Ainda hoje me arrepio quando me envolves no teu regaço após um demorado abraço. Esse abraço abençoado pelos homens e pelos deuses que já o foram.

Crescemos juntos! Formamos uma bela equipa, já o sentíamos. Não houve quem no-lo não confessasse. Até naquela carta que recebi e que lemos em conjunto, proveniente dos frios do Minho. É assombroso, como por vezes somos confrontados com as coisas mais inesperadas mesmo dos mais ignotos. Enchia-nos de orgulho e de vontade em continuarmos assim, tu e eu, nós. Simples, harmoniosos. Eu, o menino timorato e tu, a menina insegura embora determinada. Amigos e amantes. Conquistadores do tempo e dos afectos, do mar e dos céus.

Crescemos cúmplices! Em equilíbrio, harmonia, conhecimento, cimento. Cimento robusto, consistente, unificador, quotidiano, encorajador. Sem trocas, pagas ou invejas. Sempre em conjunto enfrentámos a vida, os trabalhos, as contrariedades, e até os fiscais ferroviários em Paris, quando fomos apanhados sem bilhete. A experimentar a vida, exaltando-a na sua magnitude.

Cimento que se solidificou em circunstâncias tão especiais quanto quotidianas. Café sem açúcar, fruta rija, arroz basmati, rucola e pinhão, as brincadeiras no supermercado entre expositores e o olhar repreensivo dos demais, as longas caminhadas com o nosso querido Mustapha, a união acostumada das mãos unidas pelos dedos entrelaçados, descodificadores de mensagens de conforto, compromisso e alegria. Alegria de viver. O passo ajustado, a respiração sincronizada, a síntese simbiótica de informação recolhida para costurar no pensamento. Pensamento em ti, em nós, nos outros, no futuro.

A notícia daquele envelope que me enviaste para a Bélgica. Céus, estive duas horas a chatear ininterruptamente o cinzento funcionário para que vasculhasse entre as encomendas por classificar e me entregasse um dia antes do procedimento normal, aquilo que me destinaras. Lá me desenrasquei e quando abri o pacote, corri e saltei na Grand Place como um louco feliz, segurando junto ao peito um ramo de flores silvestres que exalavam maravilhosamente a milhares de km de distância, aquele intenso aroma exótico dos campos do Alentejo em flor. Esses campos que se habituaram à nossa presença. Esses campos que amámos e tomámos por morada.

Tudo tinha um significado especial. Para ti era tão simples, tão natural como respirar. Conseguias ler nas entrelinhas, conhecias o meu pensamento, as minhas expressões, os meus anseios e os medos de uma criança assustada. O berlinde, os carrinhos, as flores, o caderno que me fizeste, o chapéu-de-chuva com a constelação de Orion por ti desenhada, para que me não perdesse nos caminhos da vida. Eu tentava acompanhar-te, fazer-te feliz e reconquistar aquele abraço imedível e acolhedor.
Como daquela vez em Bruxelas, quando viste numa montra aquela magnifica peça lilás de tapeçaria, dourada nas extremidades. «Quanto custará?», perguntaste, ao que prontamente redargui, receando pelas minhas parcas economias: «não tem preço, estás a ver?» E não tinha. Como poderia ter? Por isso te envolvi nela quando regressei a Portugal, contemplando o teu doce sorriso.
Nunca tive o teu jeito, mas esforçava-me bastante, mesmo quando apenas apreciavas o gesto da minha culinária hesitante mas evolutiva. Só para receber esse sorriso, esse caloroso abraço que me aproximava da vida e um do outro.

Ao teu lado, aprendi, cresci, lutei, descobri. Nunca me deixaste desviar das minhas convicções que eram as nossas. Foste farol, guia, estrela polar, vento norte, sol, bússola, eu sei lá. Aceitámos as nossas imperfeições e riamos delas. Fomos nós, tal como nos conhecíamos e nos desejávamos. Ardentes, intensos, revigorantes, sublimes, amigos.

A ternura, a cúmplice troca de olhares, o nosso amor, vivido com intensidade e alegria. O ardor de paixões vividas e revividas em homenagem àquele abraço primordial. Tal qual o primeiro dia. Contigo proclamei a vida e o amor.

Os cheiros, os corpos, as lágrimas, os sorrisos. Ah, esse teu sorriso resplandecente, generoso, maravilhoso como os campos floridos a perder de vista na primavera. O aroma da caruma, do pinhal e da terra virgem molhada, as eiras, os grous, as rapinas, os pirilampos (foi contigo a única vez que os vi, recordas?), as estrelas, as pedras, os antúrios, as carícias, o suave toque dos teus lábios contra os meus, seguido de uma ensandecida fusão de sentimentos extasiantes, arrebatadores.

Eu, complicado, impulsivo, indignado, racional. Tu, serena, simples, terna, sensível. Tu, a amora, eu, o anjo. O «produto» seria clarividência, sensatez, ânimo, determinação e muito, muito amor. Tu, os nomes, eu, as caras. Tu dizias, Samuel, Simão e Camila. Eu, que sim! Que seriam lindos, magníficos e todos diferentes uns dos outros. Mas com os olhos, pernas e pele do pai, boca, barriga e ombros da mãe. A ternura da mãe e a impetuosidade do pai. O coração de ambos. Assim tinha ficado assente.

De ti, amor, guardo para sempre a candura da tua expressão nesse perpétuo abraço enroscado, que me dava tudo o que a vida me fez sonhar.



Alguns dos que te amam e que para sempre testemunharão o legado que nos deixaste, sem jamais olvidar como nos tocaste no coração.

Augusto e Isabel, Mustapha, Inês, Joana, Ana Margarida e Gonçalo, Carlitos e Graciete, Maria João e Mónica, Rita, Luís e Talita, Zira e Luís, Jorge e Ana, Lelito e Emília, Anabela, Adelino e avó Mila, avó Luísa, Lurdes e Mário, Marito, Tânia, Manuel e São, Serge, Richard e Laura, Maria, Cláudia, Nelson, Raquel e Gualter, Judite, Carolina e Jorge, Maricruz e Javier, Ilídio e Maria José, Ju, Adelina, José Carlos, Cláudia e Leonel, Luís e Carolina e Mariana, Mattej, Cá Migué e Fransquinha e Pedro e Henrique, Ana Isabel e António, Mafalda, Vivi, Nelly e Ângelo, Inês e Gonçalo, Gonçalo e Ana, Cláudia e «Joly», Jorginho, Carina, Tavira e Verónica, C. Rita, Patricia, Regina, «Salsicha», «Bugo», Zé Paulo, «Toni», Carapau, Mimoso, Diogo e Xana, Joana e Freitas, João de Setúbal, «Jacaré» e Sara, Marisa e João, Ana Marques, Gante e Sara, Cristina, Tânia e João, Ana, Tânia, Clica e Pechincha, Boris, Eurica, Meggy, Mimmi, Indira, Bicho e Liliana, Hugo e Licínia, Dora, Ana, Maria Inácia, Florbela, Paco, Flo e Victor e Jojo e Vic Júnior, Mariana e Hugo, Miguel e Cidália, António, Hugo Santos, Lucinda, João e Mafalda, Pedro e Ana Isa, Íris e João, Sílvia, Cátia e Nuno, Filipe, Joka, Lois, Tiago e Susana, Miguel e Marisa, Leonor, Sónia, Venina e Hélder e Vasco, Steiner e Nádia, Cláudio, Artur, Gil, David Hans, Rafael Tadeo e Danele, Alexandre Nunes e Laura, «Cid», Carmo, São e Oliveira, Moreno e Catherine, Gavela e Cláudia, Telmo e Rosária e Beatriz, P. Ferrinho, Luzia, Manuela, Helena, Rita, Inês, Carina, Joana, Ana Queiró, Carla e Rogério, Lara, Sara Morgado, André Miguens, Joana e Zé, André «puto», Nelson, Saul, Mário, Zé, Ana, Cristina, Olivério, Josué, Sílvia e Manaça e Rafael, Raquel e Gonçalo, Joana, Jorge «afilhado», Carla e Licas, Guida, Paula e João.

Samuel, Simão, Camila e eu.
Fim



«Carta» à Catarina, manuscrita entre os dias 24 e 26 de Julho de 2005 e transcrita integralmente a 29 de Julho de 2005. 

26 comentários:

ARV disse...

É mais que certo que aqui não se transcreveram todos os nomes que merecem aí figurar. Bem diziam que a omissão poderia ser pecado. Mas nada é, neste aspecto, irreversível. Aos que foram injustamente esquecidos, deixa-se o apelo da iniciativa, que será benvinda.

ARV disse...

A todos quantos desejem partilhar boas recordações, apela-se igualmente para que as deixem neste espaço. Obrigado.

Anónimo disse...

Flo, Victor, Jojo e Vic Junior

Anónimo disse...

um texto belo sem dúvida. fica certamente aquém do que foi/é o amor que sentiste/sentes por catarina. estou na certeza que onde estiver, catarina se sentirá orgulhosa de ti, e te acompanhará nas decisões e nas metas novas que terás de cumprir. será certamente seu desejo que continues, que sigas a tua vida, agora sem ela fisicamente presente, é certo, mas com o peito aberto ao incerto, aos melhores momentos que te esperam, e aos piores também, mas que incertos, como o que te levou catarina, são a única saída possível para que nada do que de bom se passou convosco, tenha sido em vão. porque afinal, como dizes, cresceram juntos.

força ARV

Amaltatapresente

Anónimo disse...

Por tudo o que sentes e nos fazes sentir com essas tuas doces palavras e aa memórias sempre presentes da nossa querida Catarina. Bem hajas.

Tânia

Anónimo disse...

Caty will always be in our memorys, her smile is enternal and she is up there somewhere... In the end.. We all will be back together again someday. Until that day comes... She will be in our memorys and hearts and that way she will live on... in us...
We miss you my cousin...

Anónimo disse...

Caty will always be in our memorys, her smile is enternal and she is up there somewhere... In the end.. We all will be back together again someday. Until that day comes... She will be in our memorys and hearts and that way she will live on... in us...
We miss you my cousin...

Anónimo disse...

Alexandre, como tu próprio afirmas, coisas há em que a questão da irreversibilidade não se coloca como um problema. Bom..., subentendidas ficam as outras, as que não voltam atrás... Alexandre, relativamente às segundas, não te esqueças delas. Nunca.
Alexandre, as primeiras, as primeiras são tudo aquilo com que ficas e que, assim o creio, apesar de agora te poderem surgir pequenas, minúsculas, quasi insignificantes, são todas as coisas que aprendeste a ver, a conhecer e a perceber com a Catarina, porque, és tu que o dizes, cresceram juntos.
Alexandre, acredito até que todos os que tiveram o privilégio de partilhar momentos com a Catarina, guardarão, das pequenas coisas onde radica a memória, a sensação única dos momentos agradáveis. E só dessas porque de outras não há.
Alexandre, a lembrança vive em ti, vive em nós. E nós estamos cá, contigo, para que pelo menos essa, a lembrança, não se vá embora.

Para ti, para a Catarina, para o Samuel, o Simão e para a Camila um Beijo

Telmo, Rosária e Beatriz

Anónimo disse...

Pegadas na Areia… Se ao caminhares na praia sentires apenas um par de pegadas na areia, acredita carrega-la tu, as vezes, nos teus braços e ela, outras vezes, nos seus naquele “abraço abençoado pelos homens e pelos deuses que já o foram”. A Fiuza e uma pessoa linda! Ha tanto para guardar dela. Ao crescer com ela e inevitavel ser contagiada pela sua coragem. Faz dela a maior forca para a tua vida! Um forte abraco! Guida

Anónimo disse...

Alexandre:

A vida é dura e não concede quartel, mas é também palco de aprendizagem ininterrupta e esta dualidade reside no cerne da sua beleza inegável.
Desejo-te, neste momento adverso, força e vontade.
Um abraço.

Anónimo disse...

"Quand je parlerai la langue des anges,
si je n´ai pas l´amour...

Je ne suis que airain qui résonne.

Quand j´aurai le don de prophétie...
la science de tous les mystères...
et toute la connaissance...
quand j´aurai même toute la foi...
jusqu´a déplacer les montagnes,
si je n´ai pas l´amour...
je ne suis rien.

L´amour est patient, il est plein de bonté;
il supporte tout,
il espère tout,
l´amour ne périt jamais,
car les prophéties prendront fin,
les langues se tairont,
la connaissance disparaîtra,
car les prophéties prendront fin,
les langues se tairont,
la connaissance disparaîtra...
maintenant donc demeurent...
la foi, l´espérance et l´amour...
mais le plus grand de ces trois...
c´est l´amour"


O nosso amor por ti atravessará a eternidade minha querida e doce prima...

Alexein, que todo o teu amor seja a tua força para seguires em frente com coragem.

Um xicoração
A.F.

ARV disse...

La Quête (Jacques Brel)


Rêver un impossible rêve
Porter le chagrin des départs
Brûler d'une possible fièvre
Partir où personne ne part

Aimer jusqu'à la déchirure
Aimer, même trop, même mal
Tenter, sans force et sans armure
D'atteindre l'inaccessible étoile

Telle est ma quête
Suivre l'étoile
Peu m'importent mes chances
Peu m'importe le temps
Ou ma désespérance
Et puis lutter toujours
Sans questions ni repos
Se damner
Pour l'or d'un mot d'amour
Je ne sais si je serai ce héros
Mais mon coeur serait tranquille
Et les villes s'éclabousseraient de bleu
Parce qu'un malheureux

Brûle encore, bien qu'ayant tout brûlé
Brûle encore, même trop, même mal
Pour atteindre à s'en écarteler
Pour atteindre l'inaccessible étoile

Anónimo disse...

Conheci a Catarina antes de entrar para a segunda aula da Pós-graduação. Encontrámo-nos algures nos corredores do C8, as duas à procura da sala que tínhamos no horário. Eu, como já tinha feito a licenciatura na FCUL, indiquei uma direcção que me pareceu ser a da sala que procurávamos e acabei por a levar para um sítio ainda mais distante. Por fim, lá demos com a sala, entrámos e sentámo-nos juntas. A prof. Luísa tinha marcado trabalho de casa no dia anterior e nós comparámos o que tínhamos feito. Nos momentos mais barulhentos da aula, sussurou-me que ainda se estava a mudar e que não tinha cá o computador. Depois contámos uma à outra o que fazíamos, disse-me que era de matemática, que já tinha dado aulas mas que agora queria mudar de rumo para uma coisa mais aplicada. A partir daí passou a ser a minha companheira de estudo. Olho para a minha agenda durante o primeiro semestre e aparece inúmeras vezes marcado “14H- FCUL- estudar com a Catarina”. Nehuma de nós trabalhava nessa altura, eu só ia ter a bolsa de doutoramento a partir de Janeiro e ela tinha-se candidatado a um estágio profissional no Instituto de Medicina Tropical que tardava em arrancar. Estudávamos bem juntas, nenhuma de nós era estatítica, mas ela sendo de matemática explicava-me as derivadas e as passagens que tinham omitido entre duas expressões; eu, bióloga, (segundo ela) ajudava-a na parte de aplicação, dava-lhe exemplos de como se podia usar aquilo e a tirar as “conclusões” após os cálculos feitos. O primeiro trabalho que fizemos foi o de Bioestatística, era individual, mas fizemos quase tudo juntas. A Catarina andava num “stress” porque não sabia como escrever, lá lhe dei uma ajuda. Ela depois reviu o meu trabalho e detectou um erro crasso de cálculo.. típico! Os trabalhos e os exames do 1º semestre sucederam-se, e a amizade foi-se fomentando. Entretanto, no 2º semestre as cadeiras eram opcionais e só ficámos com duas cadeiras em conjunto; começamos também as duas a trabalhar e víamo-nos menos. Lembro-me de um dia em que lhe liguei para combinarmos quando fazer o trabalho de MEG e ela estava numa “pilha”, andava a fazer um trabalho de outra cadeira (que eu não tinha) e queixava-se que sentia imensa falta de mim e da Carina para estudar, tirar dúvidas, etc.
A Catarina era sempre muito interessada nos mistérios da biologia e fazia muitas perguntas. Eu lá lhe explicava as experiências que andava a fazer, como contava as larvas de lagosta com um conta-gotas, o que lhes dava de comer, como se faziam as análises bioquímicas, para que servia, etc. Ela queria saber tudo, como se separavam os ácidos gordos uns dos outros numa electroforese, eu lá me esforçava por explicar que eles subiam ao longo de um gel por capilaridade e como cada um tinha um peso diferente, uns subiam mais que outros e assim podiam ser identificados. A Catarina ficava toda satisfeita com estas explicações e dizia com um sorriso e a dançar enquanto andava “há tanto coisa para saber!”. Para além destas conversas “académicas”, falávamos sobre o que queríamos fazer no futuro, as portas que estávamos a abrir, os projectos pessoais, o Alex, o relógio biológico dela num “tic-tac” acelerado quando falava em crianças, a compra do meu apartamento em Lisboa (“na poluição”, como ela dizia), e a busca dela e do Alex de um terreno lá para terras alentejanas onde planeava construir uma casita, enquanto rabiscava a planta da futura casa, que depois podia ser ampliada, etc.
Nas duas últimas semanas antes de terminar a pós-graduação encontravamo-nos todos os dias na FCUL depois de sair do trabalho para fazer o interminável trabalho de MEG. Andávamos estafadas, era a recta final. Foi num fim-de-semana desses que conheci o Alex que tinha vindo a Lisboa para estar uns bocadinhos com ela. Fomos todos almoçar no “Mocho” e depois ele voltou para casa enquanto nós voltámos para a FCUL continuar o malfadado trabalho. Ele telefonou a meio da tarde a perguntar o que devia ser o jantar, ele propôs croquetes, ela deu-lhe a volta com jeitinho comvencendo-o que rodelas de lulas com tomate era melhor (não gostava de fritos). Durante a semana, não tinha tanta sorte, às vezes, e como já saímos tarde e a cantina estava fechada, jantava uma peça de fruta. Andava magra, as calças estavam a ficar-lhe largas e sentia-se-lhe os ossos todos nas costas . Foi na quarta-feira que entregámos finalmente o trabalho e com isto terminámos a pós-graduação. Nessa noite fomos todas jantar ao “Siesta” em Algés para celebrar o fim da pós-graduação. A Catarina fez questão de ficar ao pé de mim e fartou-se de dizer “Eh pá, tou tão nostálgica, isto já acabou!”. Falou muito nos pais, a diferenças de feitios, que tinha um feitio mais parecido com o pai (que se entendiam bem) e que a mãe achava que ela gostava mais dele, o que não era verdade. Falou na educação que eles lhe deram, como aos poucos ganhou a confiança deles para sair à noite, etc. Disse-me também “Gostei muito de nos conhecer”, eu respondi-lhe “Está bem, nós sabemos (tentei desviar a conversa, não queria que a nossa noite de margaritas se tornasse muito sentimental)”, mas ela retorquiu “mas isto é importante ser dito”, eu disse que “sim, é verdade, mas vamos lá tirar fotografias”, ela riu-se e passámos a disparar. Mais no final do jantar combinámos que na semana seguinte ela ia sair mais cedo, apanhava o comboio para Cascais e eu iria buscá-la para irmos visitar o Laboratório da Guia e depois irmos à praia do Guincho. Mas na noite seguinte o destino trocou-nos as voltas.
Um dia deste sonhei que estavamos a andar numa montanha e a conversar sobre os nossos planos de futuro, como era costume, e de repente eu paro e lhe digo-lhe “Mas espera lá, tu morreste”, ela semicerrou os olhos e abanou a cabeça como quem diz “Não estás a perceber nada”... mas também não se explicou.

Joana

Anónimo disse...

Fui colega da Catarina na pós-graduação. Os interesses estatísticos um pouco diferentes deixaram-me a pena de não a ter conhecido um pouco melhor. No entanto lembro-me de ter comentado com alguém, pouco tempo depois de a conhecer, o quanto ela me parecia uma pessoa interessante. Porque acho que a Catarina era uma dessas pessoas, daquelas que quando cruzam o nosso caminho não nos deixam indiferentes. Lembro-me de uma conversa sobre os nossos sonhos. E de ela ter partilhado que o que gostaría mesmo de fazer um dia fosse talvez ter uma pequena livraria/café. Lembro-me do seu sorriso honesto e radiante, e do seu tom grave e sereno. Tenho pena de não a ter conhecido melhor.
Da conversa na noite do "siesta", invejei-lhe a ternura com que falou da sua adolescência, e do amor pelos pais. Sim, pelos dois, mãe e pai, igualmente.
Sonhei também com ela depois daquela fatídica noite. Como disse alguém, outro dia nos encontraremos.
Um abraço
Ana Queirós

Anónimo disse...

Meu caro ARV :

Regressei de férias e à minha "rotina" quotidiana. Um dos meus hábitos recentes mais salutares é ler ARV, sem sequer sentir a necessidade de intervir, tal a qualidade do que leio (excepto se pressinto algum desafio, como foi o caso, por exemplo, daquelas duas calamidades sesimbrenses...).
Abri "In tenui labor" e deparei com "Crescer Juntos" : olha, o Alex ! A sua leitura foi-me adensando o pressentimento de uma tragédia. Não era, simplesmente, uma belíssima carta de amor (sempre "ridículas", como afirmou Fernando Pessoa, no contexto da sua terrena "inabilidade amorosa"). Era a expressão de uma profunda solidão, como é inevitável em situações da nossa vida "normal" relacionadas ou com o grande sofrimento ou com a morte (ninguém sofre o sofrimento que eu sofro; ninguém morre a morte que eu morro). No final, lá estava referenciado o meu filho Miguel, a minha futura nora Cidália, o meu amigo Carapau (terá sido professor da Catarina). Os comentários tiraram-me todas as dúvidas e relacionei com a notícia que tinha recebido, por telemóvel, quando me encontrava no Algarve, e que me foi transmitida pelo meu desgostoso enteado Hugo Santos (arquitecto paisagista). Tratava-se, afinal, do Alex e da sua noiva... Um "estranho" (pois sinto-me "virtualmente" próximo) tem de chorar e, depois, procurar algumas sentidas palavras de solidariedade e de esperança (que é o que estou a tentar fazer, talvez com uma surpreendente falta de jeito).
O Alex ficou com a responsabilidade incondicional de "crescer junto" (ao seu Amor, agora essencialmente imaterial). Responsabilidade, no sentido legítimo de saber encontrar as "respostas hábeis" aos desafios com que a Vida o desafia e desafiará (é, pois, no sentido do protagonista que cresce no jogo vital da verdade e do erro, o que é exactamente oposto àquele sentido que tradicionalmente se dá de "responsabilidade", como culpa, o que inevitavelmente definha). É isto, em síntese, o que lhe quero transmitir nestas horas de tormento, pois alarmou-me a palavra "Fim", que só compreendo, digamos, a 75% (Samuel, Simão e Camila).
Conto-lhe, ainda, uma história pessoal : em 11/10/2004 faleceu o meu Pai e nunca poderia imaginar a enorme dimensão desta perda (mesmo que a “lógica” da vida dissesse ser natural acabar por perdê-lo...). Foi um bálsamo ter recebido no meu telemóvel, durante o velório, uma mensagem do meu amigo Rui Arimateia com um poema de Fernando Pessoa (que coloquei, destacadamente, na campa do meu Pai, após aprovação da família) :

A morte é a curva na estrada.
Morrer é só não ser visto.
Se escuto eu te oiço a passada.
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Estava mesmo disposto a colocar, em alternativa, a minha “explicação” deste poema junto da família (numa forma mais literal e menos holística), mas não foi necessário :

A morte é a curva na estrada.
Se escuto eu te oiço a passada.

Morrer é só não ser visto.
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
Nunca ninguém se perdeu.

A mentira não tem ninho.
Tudo é verdade e caminho.

Logo depois, encontrei mais dois poemas de Fernando Pessoa, abordando a mesma temática (e que igualmente partilho) :

INICIAÇÃO

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
....................................................
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa :
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada :
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda Caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
...................................................
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não ‘stás morto, entre ciprestes.
........................................................
Neófito, não há morte.


JÁ ME NÃO PESA TANTO O VIR DA MORTE.
Sei já que é nada, que é ficção e sonho,
E que, na roda universal da Sorte,
Não sou aquilo que me aqui suponho.

Sei que há mais mundos que este pouco mundo
Onde parece a nós haver morrer –
Dura terra e fragosa, que há no fundo
Do oceano imenso de viver.

Sei que a morte, que é tudo, não é nada,
E que, de morte em morte, a alma que há
Não cai num poço : vai por uma estrada.
Em Sua hora e a nossa, Deus dirá.

Um grande abraço !

Anónimo disse...

vejo a água e a terra,
sinto o fogo e o ar,
e sem pensar nem entender
mostraste assim o teu desaparecer
lembro-me de ti num ultimo adeus
e rezo por ti, seja qual fôr o Deus
vejo-te assim, sem pessoa
apenas tu, energia que atordoa.
Estejas onde estiveres, envio-te o meu amor incondicional e já agora, se puderes, reza por nós...
Aquele abraço que não te cheguei a dar.

Anónimo disse...

Alex, apenas soube do aconteceu ontem a noite e fiquei estarrecido...

Nunca sei bem o que dizer nestes momentos, nunca o soube...

Força e coragem neste momento!

Se precisares de algo e só dizeres.

Um abraço!

Nuno (Cabra - para k saibas qual dos Nunos)

Anónimo disse...

"O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com acontencem. É por isso que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis." Fernando Pessoa

Um bju grande para ti, Fiuza - sei k o Alex to vai entregar em pensamentos e sonhos.
A ti, Alex nada a dizer...sei que estás bem. O teu amor vai alimentar-te e proteger-te para todo o lado e nós, aqueles que tiveram o privilégio de ver crescer esse sentimento até tornar-se no que é hoje, vamos estar mesmo juntinho a ti...tal como estaremos bem junto dela.
BJU
LUCINDA

Anónimo disse...

Alex!

O texto é, sem margem para dúvida, um verdadeiro Hino ao amor.

Onde quer que a Cati esteja, está, decerto, feliz por esta Declaração Pública de amor.

Por momentos também consegui ver a felicidade dos meus sobrinhos - Samuel, Simão e Camila. Tenho a certeza que haviam de ser uns "putos porreiros" como os pais.

Neste momento sinto muito orgulho (diria mesmo:estou babado) pela Cati, por ti, pelo Samuel, pelo Simão e pela Camila.

Aproveitemos o que de bom nos vem à memória , e o que a Catarina foi para cada um de nós.

Força Alex! A vida continua! Todos esperamos de ti, muito ânimo e coragem para continuar, nesta luta, que é a vida.

Ti Carlitos

Anónimo disse...

Querido Alexandre,

Aun no tengo palabras para definir lo que siento;todo ha sido una mezcla de sensasiones y recuerdos desde el momento en que lei tu mensaje. Creeme que siento el no haber tenido fuerzas para llamarte en ese mismo instante. Dannele y yo no podiamos creer la noticia que acababamos de recibir, y aun hoy nos cuesta creer que sea cierto.

Primero conoci a Catarina a traves de nuestras largas charlas, cuando compartiamos juntos aquel kot en la
fria Louvain-la-Neuve. Desde el primer dia que nos
conocimos tu me hablaste de esa chica maravillosa que se habia adueñado de tu corazon. Luego Catarina nos visitó y pude comprobar que todo cuanto me contabas apasionadamente sobre ella la definia a la perfeccion.

Todos quienes la conocimos supimos apreciar sus virtudes, supimos quererla tal cual era, alegre, tierna, encantadora, siempre con una sonrisa, dificil de olvidar.

Imagino como debes sentirte, aunque solo tu puedes medir la inmensidad de esa pena, y creo que te resultara dificil encontrar consuelo, pero pienso que en lugar de lamentar la desgracia de haberla perdido, debes apreciar la enorme felicidad de haberla tenido; esos maravillosos recuerdos viviran para siempre en ti.


Recuerda que no estas solo, sabes bien que aqui me tienes para lo que me necesites,

Un muy fuerte abrazo mi amigo,


Rafael Tadeo

Anónimo disse...

Sim, já sei... Aquela estrela que brilha agora junto a Orion...
brrt;mnc

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas"

Anónimo disse...

Alex, encontrei este teu cantinho quase por acidente e não deve ser difícil imaginares qual motivo… Bebi cada palavra… foi-me impossível conter as lágrimas… e aproveito agora a oportunidade que me dás…

Não passa um dia em que não pense em ti, sabias amiga? Custa-me tanto crer que o telefone não vai voltar a tocar para podermos trocar as novidades ou que não nos vamos voltar a encontrar por acaso nas ruas de Évora (ou noutras ruas quaisquer).
Tenho pensado tanto nos nossos bocadinhos (mesmo nos apressados!). A nossa aventura com o Nelson, atravessando meia Europa para passarmos uma semana na Holanda (lembraste da nossa procura infrutífera dos “diques”?). E da viagem ao Brasil, em que ligaste a avisar horas antes de acabar o prazo de inscrição, porque na correria do teu dia-a-dia por vezes custavas a dar conta do recado?
Ah, e lembraste das nossas aventuras ‘basquetebolísticas’? Para o final tivemos que partir para outra, mas passámos uns bons bocadinhos. Que sovas que levámos, sobretudo quando se tratava da equipa de Coimbra. Estive a ver as nossas fotos de Vila Real. Viemos de lá todas partidas (éramos seis, porque nós nunca nos dávamos a luxos de muitas suplentes!), mas andámos em animada cavaqueira com a equipa de Aveiro.
Vamos a um cafezinho para actualizarmos as novidades? Como adorava as nossas conversas a perder de vista… aquelas em que nos apoiávamos nos momentos menos bons, em que trocávamos confidências e que nos deixavam a certeza de que mesmo longe estávamos perto…

Eu e a Fiuza fomos colegas de licenciatura e a nossa aproximação foi gradual. No primeiro ano quase não houve contacto, porque ela fazia parte do “grupo da borga” e eu do das meninas caseiras. Depois com o basquete como elo de ligação a situação inverteu-se. Acompanhámos amores e desamores uma da outra, frustrações e alegrias matemáticas, aventuras, borgas, viagens… trocámos sorrisos, lágrimas… uma amizade que sempre a colocou num cantinho muito especial do meu coração.
Lembro-me de estarmos na esplanada do Giraldo a trocar argumentos sobre as nossas crenças (ou descrenças) religiosas e em Leiria a falar dos nomes que mais gostávamos (o meu Rafael, o Simão dela…). Recordo o seu fascínio pela fotografia e o seu cuidado com os pais sempre presentes. Ou quando nos encontrámos depois daquelas férias e, sem que fosse preciso ela dizer nada, eu percebi pelo brilho dos olhos que havia novidades coloridas. Não eram coloridas… eram de amor! Falou-me pela primeira vez do Alex e percebemos que sem nos conhecermos tínhamos estado os três no dia das matrículas no SA. Rimos ao perceber que ambas tínhamos ficado com má impressão dele. Contou-me as novidades com serenidade, mas transparecia uma felicidade incontida. Falou-me das pedrinhas que ele lhe tinha oferecido e que ela tinha adorado. Derreteu-se ao descrever um abraço que dizia nunca iria esquecer…

Alex, estive na vida da Fiuza como, de certo, estiveram outros, porque ela era uma dessas pessoas especiais sempre com um bocadinho para os amigos e que enchia uma sala só com o sorriso.
Tenho a certeza que o sabes, mas não quero deixar de o dizer. Independentemente da dor que ficou e que ficará durante bastante tempo, falaste de um amor que só os privilegiados têm oportunidade de viver e acredito que é a ele que te deves agarrar para seguir em frente e ultrapassar os momentos mais difíceis. A Fiuza angustiada e menos bem com a vida, deixou de existir quando entraste na vida dela. Foi ao teu lado que a minha amiga encontrou a paz, o amor e a felicidade… e apesar do sentimento de injustiça, revolta que agora temos… tenho a certeza que ela está a olhar por nós e a pedir-te que sigas o teu caminho.

Amiga, até um dia!
A tua Tininha…

Anónimo disse...

Respiro fundo
e lembro-me da FORÇA
guardo dentro do meu corpo
e espero que ELA ouça
;)
e ELA ouve!
e ELA dá-te FORÇA!
e nós também!!!

Anónimo disse...

Catarina, a nossa prima que nunca vamos esquecer, continua nos nossos corações, com ela nunca existiram maus momentos, desde pequena que me lembro de passar o Natal junto com ela e a restante familia, estes ultimos Natais já a familia tinha crescido, havia o Alex, o biju da catarina, ela tinha sempre um sorriso nos lábios para dar e um carinho para oferecer, nunca na vida me lembro de a ver aborrecida,uma vez dei-lhe umas palmadinhas no bumbum ela respodeu" prima não faças isso que o meu bumbum é de gelatina", a partir desse dia só para a aborrecer fazia-lhe o mesmo imensas vezes, mas ela nunca ficou aborrecida, só não gostava do seu bumbum de gelatina, mas o sorriso de alegria e simpatia estava sempre com ela.
Alex continua em frente era assim que ela te ia gostar de ver, sei que se o fizeres ela vai continuar sempre a sorrir com o seu ar de felicidade.
Força
Talita

Anónimo disse...

Li e voltei a ler este lindo texto de amor, as lagrimas não param de correr., a unica coisa que consigo pensar e no cheiro dela, na pele fresca, nas risadas que soltava e que lhe provocavam lagrimas no canto do olho. De quando eramos pequeninas e iamos tomar banho para o Lapedo as escondidas, de quando andavamos no escutismo, dos fatos que faziamos no Natal, para apresentar a família.E só a alguns dias atrás caí na dura realidade de que nunca mais ia ver a minha priminha, fiquei tão revoltada, com pena dos meus tios e de ti alexandre, com raiva pela impotencia de não a conseguir trazer de volta, de nunca mais a ir ver, só na minha mente e isso não me chega.
Penso todos os dias que se Deus existe ele também se engana, pois este grave acidente só pode ter sido um erro. Mas tu estás cá e és concerteza a versão masculina da Catarina, na bondade, na leadade e no respeito pelos outros. Só faz sentido continuar esta vida ingrata contigo no seio da nossa família! Adoro-te primo. Monica

Anónimo disse...

Como a vida é tramada...

Não me vou esquecer daquela noite na Oficina, enquanto os nossos[mui queridos] conversavam, nós criávamos pela primeira vez uma ideia sobre a outra. No fim, tu disseste que tinhas gostado muito de falar comigo porque achavas que quando as conversas fluem é porque as pessoas se dão bem. A verdade é que eu tinha sentido a mesma coisa. Que empatia extraordinária que sentia contigo.
Mais tarde percebi que as tuas curiosas "particularidades" faziam rever-me a mim própria. Era por isso que sentia que me compreendias sem eu ter de falar muito.
Apesar de terem sido poucos os momentos partilhados guardo uma grande Saudade tua.
Guardo sobretudo uma bonita memória vossa [Alex & Catarina]

Um Abraço.