Talvez por ser a quatro, o debate de hoje foi substancialmente menos mau do que o anterior (somente com Santana Lopes e Sócrates). E uma vez mais, não será demais afirmar que o não foi unicamente pela responsabilidade da dinâmica desenvolvida pela entrada de mais dois contendores, pela ligeira alteração do formato (menos rígido) e sobretudo pela qualidade imprimida no registo discursivo de Francisco Louçã.
Daqui resulta que a constatação de, caso o debate tivesse sido realizado com os mesmo dois (Sócrates e Santana), teríamos o mesmo resultado sensaborão, arrastado e a não interessar nem ao Menino Jesus.
A que se segue, é a minha cansada leitura dos antecimentos.
Desta vez José Sócrates até esteve melhor, aprendeu a lição ao documentar-se(!) e a explicitar algumas orientações programáticas, concretizando inclusive algumas ideias. No entanto, deixa-se ir em demasia na estratégia perfeitamente dispensável de trazer à cena o estado deplorável da nação e de responsabilizar obsessivamente os dois últimos governos. É esse o papel da oposição, já o sabemos, mas resulta numa perda de tempo compulsiva.
Quanto a Santana Lopes, deixou o ar miserável e infeliz em casa, e no mano a mano continuou a demonstrar uma excelente condição argumentativa. No entanto, tudo o que diz soa um pouco a dejà vu (ou dejà entendu), e não se lhe ouvem propostas concretas de acção, à excepção da política de estágios e pouco mais. Menos eloquente na segunda parte, reconhece-se-lhe a perda progressiva de fulgor, acomodado à cadeira, em especial quando o seu «parceiro» Portas se demarca dele e dá a entender que os acordos são para se cumprir mas somente no caso de virem a ser precisos.
Paulo Portas manteve-se quase sempre bastante sóbrio, concentrando-se quase exclusivamente no trabalho desenvolvido pelo seu partido no governo. De forma irritante. Em matéria de conteúdo programático, também não se fica a rir do seu parceiro de coligação: o deserto de ideias é evidente. A sobriedade deu lugar na segunda parte ao seu estilo muito próprio, que acabaria por arruinar o seu discurso final.
Finalmente, o vencedor, o rei da noite. Francisco Louçã, não só demonstra possuir um profundo conhecimento nas mais diversas matérias, como é capaz de manter um excelente nível de raciocínio na apresentação de ideias e propostas concretas. E é aqui que justamente reside a maior diferença entre uns e outros: não enjeitando o confronto e não prescincindo de uma atitude incursiva e crítica, Louçã distancia-se dos demais porque não abdica da concretização das ideias, propõe, e lá vai explicando como.
Apesar de todos se terem esquivado quanto a acordos pós-eleitorais (à excepção do já conhecido), foi evidente o flirt de Sócrates a Louçã, estratégicamente perspectivando o futuro, procurando deixar as portas, pelo menos entreabertas. Portas fez a mesmíssima coisa... Mas o curioso foi ver como a esquerda apareceu muito mais convergente do que o habitual e apesar de todas as diferenças que vão do BE, passando pela CDU até ao PS.
Habitualmente muito mais próximos, CDS-PP e PSD, não conseguiram destavez passar a imagem da coesão.
Provavelmente, quem também ficou a ganhar com este debate terá sido o PCP, por Jerónimo de Sousa se ter apresentado afónico... Sabe-se lá se não estratégicamente. Afinal, não há ninguém que não tenha tido pena do homem...
3 comentários:
Ouça lá, sr. ARV, o sr. tem de perder essa mania de generalizar aos outros aquilo que são as suas considerações. Eu cá não tive pena nenhuma do homem. Tenha cuidadinho, quem o avisa....seu inimigo é.
Vá amadurecer o seu cortex frontal e depois falamos.
Quem faz be são as ovelhas... seu refractário e obediente seguidor da doxa comuna, tão heterónoma para os homens quanto a Igreja...
Também eu pensei...esta inclinação... Mas obviamente que quando o discurso o justifica tiramos o chápéu a quem fala...mesmo com ideias contrárias às nossas!Ou não...???
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