13 de abril de 2005

Riscos da monocultura

Hoje, em conversa informal, falava-me um indivíduo proveniente da macrocéfala urbe (gente muito arejada), que o maior logro do Estado português em termos de investimento era o Vale do Ave e que, não obstante o persistente e proverbial fracasso, se preparava para mais do mesmo. Posso dizer o mesmo dos financiamentos públicos na terra dele (e adjacentes) para obras irracionais, casuístas e arbitrárias, só legitimados pela caça a votos e a bolsos…
Infelizmente não posso criticar desvarios com portos de Sines, aeroportos de Beja ou ligações ferroviárias, porque não há...

O Vale do Ave é mais um sintomático exemplo da obsessão portuguesa pela construção de majestosas fachadas de betão assentes em alicerces de palha. Se naquela região, metade das pessoas nem sequer consegue decifrar um simples texto de jornal, a cru e sem imagem…

E nem por isso pudemos verificar naquela zona do país, como agradavelmente os trabalhadores são mais qualificados, como o trabalho infantil e precário diminuíram ou como se aboliu a lógica indecifrável da mão-de-obra barata (sem manifesta capacidade competitiva com os mercados asiático e de leste). Mais, a competitividade assente na qualidade continua um chavão, aparentemente só possível aos outros, «aos estrangeiros que têm muito mais apoio dos países de origem» (a desculpa classicamente esfarrapada dos insondáveis empresários portugueses).

Antes pelo contrário, a precariedade e baixa qualificação persistem, tornando os trabalhadores meros utensílios descartáveis. As prestações de desemprego também têm que servir para algo mais do que simplesmente iludir as estatísticas a entregar à União Europeia, mediante esquemas e esqueminhas à portuguesa (e.g. formação profissional, por exemplo).

E o que mais preocupa é o facto de o Alentejo parecer estar a caminhar no mesmo sentido, o da «monocultura» das actividades produtivas/geradoras de capital. De repente, toda esta região pareceu descobrir o turismo, a maleita para todos os males…

Preocupante.

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