3 de março de 2006

Male S'tar



Wassily Kandinsky, Small Words, 1922


VÉNUS (soneto seis)

Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, porque não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...

Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
- Porque ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?
- O espelho inútil, meus olhos pagãos!
Aridez de sucessivos desertos…

Fica sequer, sombra das minhas mãos,
Flexão casual de meus dedos incertos,
- Estranha sombra em movimentos vãos.


Pessanha, Camilo (1996): Clepsidra, Lisboa, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, p. 59.

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