7 de outubro de 2006

Artistas da Arte e Outra Fauna de Combate


A única responsabilidade de um artista é fazer arte, e o seu trabalho, bem desempenhado, inclui comover-nos, assustar-nos, divertir-nos e – isto é essencial – ofender-nos. (…) A arte deve ter a liberdade de nos ofender e, o público de se sentir ofendido, desde que de forma não-violenta”.

Rui Tavares, in jornal Público, 30 de Setembro de 2006-10-07, sobre a proibição da realização da ópera Idomeneo, de Mozart em Berlim.


Aquela dimensão da ofensa é justamente a que é tendencialmente excomungada e censurada pela ideologia dominante, cuja padronização cultural de rebanho é só remotamente discernível e no seio da qual, a arte se ameaça converter em elemento de puro e alienante entretenimento, mera distracção da malta.

E o mais curioso é que tal faceta é reproduzida constante e alegremente, de forma irracional, por alguns dos próprios fazedores de arte, convencidos que estão do seu trabalho crítico e de estonteante intervenção. Uii...

A malta, ávida de «cultura» e consumidora compulsiva dos mais complexos e inacessíveis criadores ri-se sarcasticamente [mesmo os que se pensam mais intelectualóides], aplaude, suspira aqueles «ai, aii» de indignação com odor a conformismo, e regressa finalmente a casa para o conforto de uma noite descansada e com a sensação de dever cumprido.

Caro Rui, a malta de que falas já não se ofende pois interiorizou o espectáculo. Não se escandaliza se no vernissage de uma exposição, o pintor mija para o seu próprio quadro. A reacção geral é de uma arrepiante normalidade, não vão os outros comentar a falta de sensibilidade para as questões da arte...

Só se sentem ofendidos os fundamentalistas religiosos, as beatas, a realeza e os néscios «incultos» como eu. Sobretudo quando me vejo [ou a minha comunidade] confrontado com os nossos próprios engulhos e perversões ou quando vejo esbanjar rios de dinheiros públicos com verdadeira merda, mas merda da fina...


Desculpem lá… às vezes dá-me para isto…

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