15 de fevereiro de 2007

Vandos

O verde musgoso da invernal paisagem alentejana foi subitamente borrifado por abundantes salpicos cinzento-escuros e brancos. São aos vandos. Certamente um sinal dos tempos, porque de bandos nada têm e de varas tampouco. Unidos por um insondável percurso comum, as alvas garças-boiadeiras pastam ao lado de porcos pretos. As aves renunciaram aos largos dorsos bovinos e às generosas bostas que as manadas largam atrás de si. E os cerdos partiram em debandada do chiqueiro, juntando-se à vara larga, às garças sem norte. Dominados talvez por uma força simbiótica, metafísica, estes vandos fundem-se na paisagem e deram origem a uma nova espécie endémica. Talvez a profecia se tenha cumprido e os porcos tenham finalmente ganhado asas.

2 comentários:

Anónimo disse...

...e não serão só eles a ganhá-las. Espero.

DUDE

Anónimo disse...

A perpectiva alentejana do porco alado de Flaubert.
É a possibilidade do enlace perfeito de dois extremos, os materialistas e os espiritualitas.
Um abraço,