3 de maio de 2007

Carmona, o Impio






Parece claro que o barco vai ao fundo, mesmo que sejam os seus próprios lugar-tenentes a apressar o afundamento. Mas em algo, Carmona inovou. Quando Pilatos, os seus acólitos e os restantes «notáveis» , babados de raiva, já afiavam as lâminas nas suas costas traçando cenários e repartindo as costas indefesas do autarca, eis que o arguido Carmona vem a público reivindicar duas coisas. Em primeiro lugar, que não foi declarado culpado em nenhum processo mas sim, arguido. Em segundo lugar, Carmona desafiou o céu e a terra ao respeitar nada mais nada menos do que, a democracia e os procedimentos democráticos. Ainda que, a este respeito, a fragilidade política do executivo camarário aconselhasse maior sensatez.


No fundo, a legitimidade democrática da Câmara Municipal, mantém-se. Embora muito custe aos partidos políticos, demasiado afeiçoados às suas lógicas instrumentalistas e pouco democráticas. Contudo, não é menos verdade que é a população quem poderá decidir sobre se retira ou não a confiança manifestada nas urnas em 2005, em particular, numa altura de crise política (e não só), como a que se vive em Lisboa. Ele sabe disso, ao colocar a sua cabeça no cepo, seguro pelas mãos dos seus vereadores; mas nunca ao alcance das mãos golumianas de Marques Mendes. A este, em nome da coerência com decisões assumidas no passado (quando retirou a confiança política a «notáveis» sociais-democratas como Isaltino Morais ou Valentim Loureiro), não lhe restava outra alternativa.


Carmona sabe ao que vai. Não desconhece as implicações desta sua decisão. Sobretudo no seio do PSD, para onde não hesitou em apontar baterias e desferir o cirurgico golpe: «come-me», mas terei que sair por algum lado... Neste momento, resta-lhe essa luta.


1 comentário:

NV disse...

Eu nem ia muito "à bola" com ele, aliás eu não ligo muito ao futebol, mas o rapaz surpreendeu-me.
Afinal, fez jus da sua independência, já os outros vereadores assim não o fizeram. Estes em prole do partido, talvez tenham perdido a sua capacidade de individualidade.
Há lutas que fazemos sozinhos e costumam ser essas as mais importantes.