21 de agosto de 2007

Adolfo Rocha


Como era de esperar, a não comparência de uma qualquer personalidade que fosse, em representação do governo nas comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga, na sua casa museu em Coimbra, continua a ser um caso desta silly season. Inflamado e disparatado, como só os casos das silly podem ser.

Porque, lá por o governo não se ter feito representar no dia do nascimento do poeta, não quer dizer que não tenha apoiado a iniciativa nos restantes 364 dias que marcaram o centenário [não sei nem se sim, nem se não].
Por outro lado, o gentio tem que se decidir: ou aplaude e financia os passeios dos governantes ou repudia tanto passeio. Além disso, em concreto, o que poderia acrescentar a presença de um representante do governo, senão decoração?
Mais, Miguel Torga foi, indubitavelmente, um dos mais proeminentes poetas da contemporaneidade lusófona mas seria deselegante e um opróbrio para os restantes poetas, escultores, atletas, estadistas, monarcas, pintores, agricultores e vendedores de carpetes cujo centenário do nascimento ou da morte se comemoram neste ano, se o governo não se fizesse igualmente representar com as tradicionais honrarias, a pompa e o habitual dispêndio.

Infelizmente, quem recorre a este tipo de argumentação, revela a desorientação de quem não tem outros argumentos. A obra de Miguel Torga não poderá ter melhor homenagem senão ser lida em casa pelos indignados senhores ou ser estudada nas escolas. Mas tal raciocínio não parece estar ao alcance das avassaladoras e brilhantes mentes da oposição. Neste capítulo, Marques Mendes é um verdadeiro e espalhafatoso anão.
António Arnaut, por seu turno, começa agora a compreender a sua própria dimensão...


ARV, independente

Sem comentários: