7 de agosto de 2007

«Ali Só Há Pedras Soltas»

Em Portugal, no que toca à conservação e dignificação do património histórico, arquitectónico e cultural, há de tudo. É como na tropa. Mas são as intervenções, as que normalmente causam maior celeuma, acirram paixões e dividem «especialistas».

Recentemente, o IPPAR deu luz verde ao Município de Sines para reabrir uma porta no castelo local. Os populares não gostaram muito da ideia e é natural porque em alguns aspectos, a memória colectiva não alcança mais do que meia dúzia de décadas. Certo é que a dita porta, ali foi aberta e fechada uma série de vezes ao longo da história. Por razões de segurança para milhares de pessoas que ali permanecem durante a realização de um evento anual, mandou-se reabrir. E bem, quer pelo cuidado em envolver técnicos especializados e o próprio IPPAR, quer pela argumentação da edilidade, mais do que válida.

A mesma lógica instrumental relacionada com a adaptação a novas necessidades, esteve na origem na abertura de uma porta na cerca fernandina entre dois cubelos localizados entre as Portas de Alagoa e as Portas de Alconchel. Compreendemos a procura da contemporaneidade na decisão em rematar a porta com mármore (uma vez que se tratava de uma abertura absolutamente original), embora seja de difícil explicação o abandono do granito...

Entretanto, a Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz iniciou uma façanha arrojada em Monsaraz, não tanto pela intervenção em si mas pela forma encontrada: com maquinaria pesada, ao arrepio das regras e sem qualquer acompanhamento técnico, como acusa a ADIM (Associação de Defesa dos Interesses de Monsaraz). É interessante observar como os resquícios da calçada medieval – ladeiras de acesso à fortificação – estão a ser tratados e como impera recorrentemente entre alguns decisores – que não é o caso do exemplo de Sines nem, parcialmente, o caso de Évora, acima descritos – a incúria relativa ao que é de todos e o mais profundo desprezo por corpos de conhecimento validados cientificamente e pelo trabalho dos outros.


PS: Utilizei propositadamente a palavra «Resquícios» de calçada medieval quando me referia às ladeiras porque, como se sabe, no interior da fortificação e até há uma centena de anos atrás, os habitantes não pisavam mais do que terra batida. Só posteriormente foi instalada calçada. Para uns, medieval.

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