23 de agosto de 2007

Crédito Bonificado Para Estudar

O Estado português despe-se aos poucos dos escassos princípios que ainda o animavam, para se barricar esquizofrenicamente nos fins. Não importa como.

O argumento que justifica a asserção de um Estado-usurário é a magnânime, complacente e filantropa defesa do igual e livre acesso ao ensino superior. Por isso, o bom Estado prepara-se para afogar de vez, o já medíocre ensino superior, com a agiotagem que supostamente deveria regular.

A correcção das assimetrias que cabe ao Estado, através da atribuição de bolsas de mérito e de carência socio-económica, revelou-se um engulho para este governo: não só desinveste no futuro do país, como também o hipoteca. Desta forma, o nosso «Estado-Providência» demite-se das suas responsabilidades e leva ao extremo da leviandade o princípio do utilizador-pagador: queres estudar, pagas! queres caminhar por esta calçada, pagas! queres descansar, pagas! queres pagar-nos, pagas a dobrar!

O investimento na principal riqueza do país – os seus recursos humanos – ficará doravante, inteiramente à responsabilidade das populações, às quais compete o pagamento dos estudos dos seus filhos e ainda a liquidação de taxas de juro a um Estado incompetente, que serve de refeitório da extrema esquerda à extrema direita. Se, até aqui, os estudantes carenciados tinham acesso a bolsas de estudo – que, em todo o caso, eram desbaratadas por todo o género de chicos-espertos mas beneficiando sempre da cumplicidade incapaz dos serviços de controle do Ministério da Educação – no futuro, esses mesmos estudantes terão que pagar juros ao Estado pelos créditos bonificados engendrados com a banca.
Mais, com a disponibilização de créditos bonificados, há luz verde para o aumento das propinas. Este aumento significará um agravamento na carga fiscal sobre os rendimentos das famílias, degenerando no aumento do universo de potenciais alunos a recorrer à generosa ferramenta social disponibilizada pelo Estado.

Enquanto isso, ao abrigo do programa Novas Oportunidades, o governo distribui sem tino, diplomas gratuitos e reconhece competências virtuais. Compreende-se por que razão, as bolsas de mérito terão, a prazo, os seus dias contados...

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