8 de abril de 2008

Eu cá, sou a favor de Évora

Em Évora, a criação de uma empresa municipal para gerir os equipamentos culturais veio acicatar os mais tenebrosos fantasmas entre alguns agentes culturais. Ainda sem saber ao certo quais as competências que serão reservadas à futura empresa nem quais as suas linhas de orientação, levantou-se um coro de protestos proveniente dos mais variados azimutes. Se, nuns casos, os protestos são claros e legítimos porque levantam questões fundamentais, outros casos há em que o objectivo é revestido de contornos duvidosos. Se o aeródromo é da Academia Aeronáutica de Évora, pela mesma ordem de ideias o Teatro Garcia de Resende é do Cendrev, a Arena d’Évora é do Grupo de Forcados Amadores de Évora e a Igreja de S. Vicente é da Oficina da Terra. Nada mais errado. O Centro Cultural de Redondo é dos redondenses e, felizmente, acolhe diversos tipos e dimensões de eventos.

Em Évora não se conhece uma estratégia municipal para a cultura e essa é uma acusação feita por muitos dos agentes culturais do concelho. Há largo tempo. Por essa razão, estranha-se o timming de uma petição oriunda de sectores descontentes com o futuro, justamente por surgir no momento em que veio a lume o anúncio da criação da dita empresa municipal. Évora não aparenta ter, é certo, uma orientação estratégica montada num sector tão importante quanto o da cultura numa cidade classificada pela UNESCO. Mas foi preciso que o município anuncie uma empresa municipal para que os agentes culturais se dêem conta disso? Cheira a queimado…

Seja como for, também estranhamos por que razão há agentes culturais que produzem a toda a hora um discurso legitimador inflamado de verdades e razões, pagando chorudos vencimentos a directores e agrilhoando os próprios artistas à tirania dos recibos verdes e da ameaça de despedimento. Um desses exemplos é dado pela Companhia Teatral do Chiado, que despediu recentemente três 3 actores que mais não fizeram do que reclamar direitos consagrados, depois de terem sido sugados e mal pagos. Mas os exemplos deste «canibalismo» proliferam pelo país, levantando a questão sobre quais os verdadeiros interesses escondidos atrás das cortinas de fumo verbais que ergue cada uma das partes beligerantes.

Não sei se caberá à empresa a definição de uma estratégia municipal para a cultura ou se caberá a cada uma das capelinhas, como tem sido até aqui. Cada uma amanha-se como melhor puder.
Certo, certo é que nunca a «cultura» foi tão falada em Évora e nos blogues, desde as cheias de 60, altura em que a cultura de nabos e batatas se perdeu irremediavelmente.
Eu cá, sou a favor de Évora. Com ou sem empresa.

Sem comentários: