As anunciadas fábricas de aviões e avionetas que se hão-de instalar em Évora ainda não passaram do papel e já estou com elas «por aqui» (indicando o extremo setentrional do crânio).
Ontem, lá em casa, preparámos uma tertúlia assim, sóbria, fina, tranquila. Uma experiência quase mística. Estávamos eu, o Patch Adams, o Samuelson e o Weber. Tudo malta bem disposta e divertida. A coisa estava amena e, se não me falha a memória, estávamos no início de uma deliciosa discussão sobre a temática da improbabilidade do ser e da inconstância do devir.
Foi por essa altura que me alertaram para a existência de um tipo vestido de marinheiro que esbracejava desaustinadamente na varanda de baixo. E, de facto, o homem parecia trajar uma daquelas fardas de grumete dos musicais americanos da década de 40, cujas calças comprimem as nádegas e forçam à exposta convivência debaixo do tirelene, um dos siameses e o humilhado pénis. Mas não, apesar do aspecto de parvo, o homem ostentava afinal as insígnias da aviação.
Exprimia-se com alguma dificuldade num castelhano pobre e, do que me foi dado entender, não estava nada de acordo com o tema da nossa conversa e exigia que a terminássemos ali, sob pena de alertar o GOE. Houve quem tivesse feito confusão com o GAL (Grupo Anti-terrorista de Libertação), porque de facto, o modo como articulava as frases tinha correspondência com a desordem da aparência. Apesar de se tratar de uma temática inócua e pontual, anuí pacientemente nas pretensões do sujeito, não começasse ele a voar por ali fora e se estatelasse desamparado no chão alguns metros abaixo. Ele, mais as suas asinhas de cera. Se estava tão ansioso por voar no dia seguinte...
A perplexidade instalou-se entre os convivas, tomados de assalto por uma indignação só comparável à que se sente quando de pisa um cagalhão. É natural que o indivíduo não se sinta à vontade com a complexidade do tema mas, como se disse, um dia não são dias. Para a próxima falamos de gajas e touradas. Pronto. Satisfeito?
Ora, o que me causa algum transtorno é verificar que, como se não bastasse o intenso zumbido diário com expoente nas manhãs de domingo a que somos expostos a bem da felicidade dos outros, ainda somos forçados a tolerar pessoas que vomitam palavras desconexas e têm mau gosto no vestir. É que, ao contrário da frequência das nossas conversas inacessíveis para brutos, o tipo veste-se sempre assim e não consta que tenha feito progressos no seu processo de integração social. Ali está, jogado ao desespero e à pequenez de uma emancipação que começa no carro equipado com o autocolante de um touro e termina no cock-pit de alguém.
Perante as cabais evidências e as insuperáveis demonstrações, resta-me concluir que a exígua ilha em que este barão vermelho vive é proporcional à dimensão do seu raciocínio. Agora que penso nisso, já não é o primeiro com que me deparo. Deve ser das asinhas…
33 comentários:
Percebo bem essa de pisar o cagalhão. Fico fula quando me cagam no caminho, sobretudo quando as fulanas são australianas.
Ó ARV, você tem toda a razão. Como se não bastasse essa histórica tendência em nos ocupar, os espanhóis vêm para Portugal roubar os empregos aos portugueses e nem sequer sabem cantar a portuguesa.
Mas deixe-me dizer-lhe que não concordo com esse ataque à farda do homem. Por exemplo, já viu como é nobre e inspirador um cavaleiro trajado à antiga portuguesa, com a casaca e os calções apertados rematados pelas botas de montar?... Arrepia...
Temos que falar sobre a utilização abusiva da minha imagem. Há direitos de autor, sabia? É intolerável utilizá-la num texto em que discorre sobre a «improbabilidade do ser e a inconstância do devir» que, aliás, devia dar nome ao post.
De qualquer forma, por que não utilizar uma imagem de outro filósofo. Olhe, o Diógenes, por exemplo. Ficaria muito melhor, dado o assunto. Vou falar com o meu advogado. Passe bem.
Alguém utilizou o meu nome e disse uma série de disparates. Vou falar com o Rui Pereira para saber se lá tem uns elementos do GOE que me possa emprestar.
Caro ARV,
Devo adverti-lo que cockpit é tudo pegado e não «cock-pit». Há mais alguns erros e imprecisões que precisa rectificar. Não quer passar no meu escritório para falar sobre o assunto? Hoje, aí às 22h? Venha sozinho...
Ó Sócrates, mas tu és parvo ou quê? Atão não vês que era o filósofo, aquele romano que dizia: «eureka, só sei que nada sei quando existo!»
Como se não bastesse ser engenheiro, ainda tihamos que levar com um primeiro-ministro mais burro do que o presidente da Geórgia.
Edite, se o chavaleco não aparecer, apareça você no meu atelier. Mas pode trazer mais gente que eu não me importo.
Cara Edite,
Já lhe disse que não pode ser. Vá ter com o Tomás e explique-lhe lá isso da linguagem. Lamento, a boca do «cock-pit» era intencional mas não era para si. Era uma espécie de trocadilho. Eu não disse que era trocadilho. Disse que era uma espécie.
Muito paleio. Devias era tê-lo posto a voar. Se fosse comigo, levava logo com um saco de batatas pelas trombas.
Exmo. Povinho,
Lamento profundamente as suas palavras e essa sua atitude para comigo. É por essas e por outras que, com pessoas como você, não falo.
Gostei muito do texto e quero referir que o sr. ARV é um verdadeiro português e que utiliza a internet. Este é um produto das políticas do governo, nomeadamente do choque tecnológico, facto que muito nos regojiza. Devo também dizer que fiquei muito emocionado quando disse aquela dos siameses. O que eram?
Sr. engenheiro, passe no meu escritório que eu explico-lhe..
Depois dessas declarações do Zé Povinho, o povo da Geórgia declara formalmente guerra a Portugal.
Ainda regressando ao assunto do cagalhão, queria perguntar à Vanessa se lhe custou muito.
Custou muito, o quê?! O triatlo ou pisar um cagalhão? Ou o quê?...
Acho que a conversa já se está a esticar. Não falo da minha vida sexual a ninguém e não vou ao escritório de ninguém.
Ninguém te convida...
Guerra? Isso quer dizer que vão haver eleições?! Eu sabia! As estrelas não enganam...
Ó querida, só não a convidei nunca porque pensei que você fosse mais... como é que hei-de dizer... com esse físico... tipo, sei lá, mais do género da Dina.
Mas, olhe, deixo-lhe o meu cartãozinho e apareça quando quiser. Passe palavra.
Epá, obrigado. Nós temos que vir para aqui sempre para dar o nosso melhor. Posso levar a australiana e o Marco Fortes. Passamos aí amanhã de manhã porque, já sabe como é o Fortes: «de manhã, é mesmo só na caminha».
Eu preciso dar umas explicações a esse Marco Fortes. Fez umas misturadas nas orações da frase... E é giro...
Pero que mierda es esta?! Cabrones! Vete a tomar por el culo!
Quem é o giraço?
Se a australiana vai, eu também vou! Também já tinha visto isso nas estrelas, só não sabia quando era.
Bom, se calhar o tema é o mais apropriado. Até estou a começar a gostar dele. Só fico sem saber o que fazer com o meu método.
Olá amigos, é só para informar que o meu novo álbum está para breve.
Um grande bem-haja e não se esqueçam de passar pela Fnac.
Está em marcha um ataque sem precedentes pelo capital aos direitos adquiridos e aos trabalhadores.
O Jerónimo tem razão. Com a perda do poder de compra, os portugueses vão deixar de poder comprar plasmas e LCD's. Ora, isso pode levar à desgraça o meu mais recente negócio de televisão digital.
Aqui não há nada a fazer. Alguém que me prepare o iate e me sirva uma coca-cola bem fresquinha. O presidente da geórgia não precisa aqui de mim.
Meus amigos, aconselho alguma contenção. Os tempos são difíceis e os espanhóis são nossos amigos. Além disso, ainda não está provado que o marinheiro vestido de aviador seja realmente espanhol. Vou enviar esta matéria para o Tribunal Constitucional
Queixinhas!
Meus amigos. Vamos lá a esclarecer as coisas de uma vez por todas. Os burgueses foram substituídos pela classe média. É uma questão de nomenclatura e de dimensão de escala. Portanto, agora o alvo só podem ser os tipos que aparecem na revista forbes. Excepto o Engels, ok?
Caracoles, no se comprende nada de lo que dicen. De donde viene esta gente? Yo solo quiero volar.
Oh, filho, não compreendes nem precisas compreender. Vai lá ter ao meu atelier que eu explico... Sempre quis filmar uma cena que preste tributo à diversidade. Não se preocupem com as cervejas nem com os mastins, que eu providencio.
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