13 de novembro de 2008

«Desculpem lá, meus queridos!»

A ministra veio ao Parlamento e pediu desculpas aos professores por qualquer coisinha mas comportou-se como um adolescente que, espicaçado no seu orgulho, precipita teimosamente um desfecho sobre o qual não reflectiu. Chama-se a isso, inconsequência.

Inconscientemente, o primeiro-ministro só está a medir apenas os custos políticos imediatos: manter a unidade do grupo que o acompanha. Do ponto de vista mediato, essa toleima terá efeitos no expectável funcionamento das escolas durante o presente ano lectivo e, naturalmente, na própria avaliação eleitoral do próximo ano. De uma coisa não se livra: em arrogância, este governo só tem paralelo nos governos de Cavaco Silva. Mal das maiorias absolutas ou mal da idiossincrasia portuguesa, quiçá muito dada a estes e outros tiques autoritaristas.

Seja como for, mesmo o ser mais rasteiro e acéfalo compreende que os professores têm que ser sujeitos a um regime de avaliação sério e rigoroso. E creio que os professores reconhecem essa necessidade, particularmente os bons. Essa é a fórmula para salvaguardarem a qualidade do seu trabalho e do seu empenho.

Naturalmente que os professores têm responsabilidades na decrépita qualidade do ensino. Porém, não se lhes podem ser assacadas todas as responsabilidades sabendo que é o próprio ministério da educação quem oferece autenticamente novas oportunidades e estimula praticamente a passagem administrativa até ao 9º ano, desafiando a ética meritocrática que supostamente pretende instituir neste modelo de avaliação. Ainda restam as clivagens que o Estatuto da Carreira Docente veio trazer para um desestabilizado corpo docente.

Não é assim que é ser reformista. Mais uma vez, Manuel Alegre está coberto de razão.

Provavelmente, chegar-se-á a uma altura em que o governo reconhecerá o fracasso e tentará limpar a face, entabulando empenhadas negociações com os sindicatos. Nas actuais condições e socialmente exigível (depois de todo o mediatismo) que a avaliação seja rigorosa, o governo tem ao seu alcance a fenomenal manobra de «passar a batata quente» para as mãos dos sindicatos e pedir-lhes dentro de um prazo razoável, propostas funcionais de modelos de avaliação.

Porque a democracia, temos que aprender, não se faz só num sentido.

4 comentários:

Anónimo disse...

Os tiques autoritários da governação de cavaco silva e os do actual governo de sócrates mostram-nos que maioria absoluta JAMAIS.
Democracia é OUVIR, é respeitar as ideias dos outros, é acima de tudo participação, cidadania.

Anónimo disse...

Talvez o problema não seja das maiorias absolutas que decorrem da votação dos portugueses, na na falta de cultura democrática dos protagonistas dessa maioria.
Qualquer tentativa de impedir ou instrumentalizar a votação do povo é uma prática típica de ditaduras.
A maiorias absolutas ou não não devem de tapar os ouvidos a quem governa.
Mas ter os ouvidos abertos aos interesses particulares ou corporativos é que não me parece boa ideia.

Anónimo disse...

e quando os interesses particulares ou corporativos têm mais conhecimento e experiência do que os governos?

Anónimo disse...

Concordo com a primeira opinião expressa, no fundo as maiorias absolutas apenas servem para dar aos governos a arma para imporem a sua vontade, ainda que à revelia de toda a sociedade portuguesa. Aliás, se não fosse a maioria absoluta em que se escuda, será que o governo teria tanta sobranceria?