13 de maio de 2009

Pontes dialogantes


Como um longo estrado assente nas extremidades em dois enormes pistons hidráulicos, as saídas da ponte subiam e desciam à vez sem o deixar-se apear. Ali se quedou, deslizando para uma e para a outra ponta sem poder engolir algo mais do que golfadas de ar levadas à boca com as duas mãos. Karim estava exausto, o sonhado calaat estava cada vez mais longe. Talvez fosse da sua natureza ou, simplesmente, aquela surpreendente impotência teria sido obra dos guardiões dos céus. Mas as pontes pareciam não assegurar diálogo entre duas margens tão secas como o Kalahari, deserto que Karim jamais vira. Assim permaneceu, no limbo paradoxal de uma ponte.

3 comentários:

Anónimo disse...

A maioria vive no limbo, entre pontes, entre alternativas possiveis de seguir

Anónimo disse...

... feitas disto e daquilo, feitas de nada a não ser o pesado edifício que temos sobre os ombros e que não nos deixa enxergar para além dos limites da ponte. Os que enxergam e não se resignam são normalmente atirados ao tapete pelos sucessivos estremecimentos da ponte ou não passam de miseráveis Diógenes.

Anónimo disse...

de pontes não sei nada, mas gostei do texto...

abracinho