3 de março de 2011

Regionalização não é prioridade

Eleita como uma das bandeiras eleitorais do PS, a regionalização não é, ao fim de contas, uma prioridade. A justificação, encontramo-la no contexto. A instabilidade gerada pela crise económica contamina o campo político que, por sua vez, contamina o campo social. É esta a leitura que aparentemente fazem responsáveis do PS e que se resume na lapidar expressão "não estão criadas as condições sociais necessárias para...".
Isto soa sempre a uma espécie de navegação sem leme do tipo "se der para atracar, dá! se não der, não dá!"

Impõe-se uma pergunta: não sendo uma prioridade agora, por que casualidade haveria de ter sido declarada uma prioridade nas eleições? Sobretudo, sendo certo que a regionalização sempre foi apresentada pela esquerda como uma forma de racionalização do Estado e de melhoria da eficiência administrativa e política do país. Ou não? Mas, nesse caso, porquê insistir constitucionalmente na existência de regiões administrativas e não sucumbir de uma vez às aspirações da direita? Para afirmar o carácter distinto da sua genética ideológica? Parece muito pouco. E desonesto. 

Não será afinal que a verdadeira e desgastante ausência de condições esteja do lado do PS, incapaz de se bater pelas medidas que ideologicamente diz ter sempre defendido? Afinal, a regionalização sempre foi apontada como uma medida de racionalização financeira do Estado, uma reestruturação administrativa que pressupõe justamente a poupança e optimização dos recursos existentes. Como é também evidente, implicaria cortar os tentáculos meramente inspectivos (quando se chega a tanto) da Administração Central, nomeadamente as direcções regionais distribuídas por todo o país, os governos civis, as comissões de coordenação e desenvolvimento regional e outros inúteis pequenos tentáculos. Assim, a criação de regiões administrativas passa, desde logo, por convencer os oposicionistas do não aumento da despesa e da não sobreposição de competências pelos vários níveis de administração.

Infelizmente, o que se vê nesta matéria é que o PS nunca soube ou quis defender esta sua bandeira de sempre, coetânea da sua própria fundação. Assume, por assim dizer, a insuficiência da própria ideologia, algo que desgosta profundamente milhares de socialistas.

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