31 de agosto de 2004

em de-talhe

LIÇÃO 1

A propósito da polémica do «barco do aborto» e do estoicismo com que o Sr. Ministro da Defesa e das Caravelas põe termo a um esboço de discussão democrática...

Ora bem, creio eu (com alguma dose de fé) que uma das noções clássicas de Estado de Direito aponta para qualquer coisa como circunscrição territorial com fronteiras definidas, com uma população residente (portanto mais do que uma pessoa ou família), seguindo uma ordenação jurídica que normatiza a vida em sociedade (para além dos mores e de todo o complexo axiológico, evidentemente). Isto, entenda-se, mais coisa menos coisa, evidentemente.
Acrescem as ideias/princípios de reflexividade, participação e liberdades, inerentes a um conceito de democracia, que apenas por razões funcionais e pragmáticas (entenda-se aqui que se considera mais que um indivíduo, a quantidade de unidades de carbono que constituem a tal população), faz apelo a um modelo de representatividade ao invés do clássico Governo do povo, próprio de uma democracia directa. "Somos representantes, sim, do povo", convém não esquecer.
Ora, apesar de tudo o que referi ser discutível (apesar ser pretensamente do domínio público), parece-me que até nem andarei excessivamente distante, eu, um simples e curioso cidadão que pouco mais fez na vida que passar férias (embora também gostasse de assumir cargos públicos de relevo). Nesse caso, se assim é e o reconhecemos como tal, não será no mínimo absurdo se me insurgir por exemplo, contra os "touros de morte" e quando um seu defensor prepara os seus discutíveis argumentos, eu rematar com "a questão está encerrada, não se fala mais do assunto, ganhei"? A mim, soa-me estranho. Noutros tempos, atitudes como esta eram imediatamente sinalizadas...
A mim, ninguém me questionou sobre brincar aos soldadinhos de chumbo ou à batalha naval com traineiras de um lado e bacalhoeiros do outro. Mas gostava de ter podido dar a minha opinião ou no limite e caso se proporcionasse, dar uma voltinha no bacalhoeiro e atirar pedras às hereges...

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