ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS AMERICANAS
E, sem embargo, todo o aparato em torno das eleições presidenciais norte-americanas, com o enorme o show off habitual, investidas e contra-investidas (de conteúdo...), mais escândalo e menos escândalo, mais dollar, menos «petroil», com mais pólvora ou menos pólvora, eis que, bem espremidinhas as propostas, do nectar nem sinal. Pessoalmente, tenho a convicção que nada vai mudar no mundo (em termos de política externa) a não ser o continuar da insatisfação internacional, da repressão e da parasitagem sobre a natureza e os povos. O estilo de vida americano não se compadece com sacrifícios económicos, e é absolutamente incompatível com a preservação ambiental ou a competência alheia. A diferença entre Kerry e Bush é menor que a espessura de uma folha de alface, embora Kerry aparente ser menos extemporâneo, mais ponderado.
Por conseguinte, é na gestão de expectativas e interesses dos poderosos que se faz um mandato na Casa Branca, logo, quem dá a cara até pode ser uma amiba unicelular (se existir) como a que lá está, pois as decisões já lhe são entregues escritas em papel (embora ele teime em falar por sua conta e risco, à desgarrada mental consigo próprio, mais ou menos como o espécimen surpresa que nos deixaram em S. Bento).
O primeiro de três debates, hoje às 21 horas na Florida (2 de Portugal), poderá ter o efeito de sedimentar a vantagem de Bush nas sondagens ou, pelo contrário, despoletar a reviravolta. Talvez, pelo seu estilo menos enganchado em oposições binárias do estilo right and wrong, Kerry seja o menos mau, sobretudo para o próprio eleitorado americano. A que nível? Do civismo e da interiorização de algumas concepções básicas e cosmovisões que a divisão do mundo em dois operada por Bush, desmantelou. Ao aumentar as clivagens, acantonando-as em dois grandes grupos, Bush contribui para o estímulo de fundamentalismos de toda a ordem, seja do lado das manifestações nacionalistas pós 11 Setembro, seja de grupos islâmicos radicais ou cristãos, ou hindus, etc. É este o grande contributo de Bush para o mundo e é tanto responsável pela actual situação mundial como Sharon o é pela presente entifada (sem pretender com isso escamotear problemas que já existiam antes).
Por isso, os americanos que se cuidem pois não há fumo sem fogo e nesta ordem de ideias, causa-me uma certa confusão mental porque raio se difunde a ideia, pelo mundo inteiro, de serem os americanos isto e aquilo. Só se pode explicar por uma embirração que o mundo tem com eles. Que raio de obcessão... Afinal, eles é que são os bons, eles e os que vivem na terra prometida, o povo eleito. Bom, já que os outros são os maus... não deixar créditos em mãos alheias e para isso aí temos diariamente a cabal demonstração de ensandecimento que nos chega através dos media, de ataques suicídas, raptos, degolações em directo, etc. etc. Conselho: nunca enfrentar um animal ferido ou colocar em causa a segurança de crias.
Talvez dê mais gozo por serem americanos e todo o mundo morrer de inveja deles... e do novo ordenamento mundial, do qual resulta proporcionalmente mais miséria do que na idade média. Sociedades evoluídas? Nós?
Sugestão de fim-de-semana:
Ver «O Planeta dos Macacos» de Frankin Schaffner ou ler «A Condição Humana» do Malraux; também se pode simplesmente ver o «Shrek» ou ler Júlio Dinis e fingir que nada se passa.
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