Infelizmente, as campanhas
eleitorais são por vezes pautadas por um ressabiamento que excede as fronteiras
da ética e da seriedade que a democracia exige. No caso de Évora, o jornal de
candidatura de Manuel Melgão à Câmara Municipal de Évora apresenta um quadro
comparativo da obra feita pela actual gestão
PS e pela anterior gestão CDU, produzindo um enviesamento intencional. É evidente que as candidaturas se esforçam por
focar os aspectos positivos das suas gestões e minimizar os aspectos positivos
das candidaturas concorrentes. Mas não será excessivo dizer que há limites para a obliteração e, necessariamente, para a manipulação da
informação.
Para não extravasarmos o âmbito do
referido quadro comparativo, importa desmontar esse discurso perverso com o
reposicionamento da verdade no sítio que lhe compete. Desde logo, aludindo ao
conjunto de obras que resultaram de transferências do Estado para as autarquias
como em 2008 na área da educação ou, em 2004, do património do Ex-IGAPHE para
os municípios, justificações para os «investimentos» feitos na educação e na
habitação social.
A maquinação não fica por aqui. Assumem-se como obras da
autarquia, aquelas que resultaram de programas lançados pela Administração
Directa do Estado (exemplo da requalificação do parque escolar e edificação de
novas escolas), do envolvimento directo do
governo (exemplo da Embraer) ou, até, da Associação de Municípios do Distrito
de Évora (exemplo da recolha de lixo indiferenciado e selectivo) com a qual, de
resto, há um conjunto de compromissos financeiros por cumprir, os quais têm comprometido
a relação desta autarquia com as restantes do Distrito.
A própria requalificação da área
envolvente da muralha resulta numa falácia pois, como se sabe, foi apenas
executada no primeiro mandato de José Ernesto depois da reivindicação de
autarquias como a de Évora que foram inicialmente colocadas à margem do
Programa Polis (final da década de 90), precisamente porque não tinham
necessidade de reabilitação urbana profunda como a que aquele programa tinha
por objectivo.
A estas «realizações» juntam-se
os conhecidos «flops» (exemplos do Salão Central e do Estádio Municipal), os
investimentos duvidosos (exemplos da Arena de Évora, Évora Moda, Águas do
Centro Alentejo, as duas obras contratadas e pagas em simultâneo para a Rotunda
das Portas da Rua do Raimundo etc.) e as rupturas ou desleixos: com o Centro
Histórico, com os agentes associativos, com a cultura, com as finanças
municipais, com o potencial de envolvimento da Universidade de Évora no
desenvolvimento regional e, com a própria operacionalidade e capacidade de
resposta dos serviços municipais. Entre tantas outras opções políticas cujos
benefícios são extremamente duvidosos.
Nestas eleições, perdemos todos
uma boa oportunidade para que o actual executivo explicasse aos eborenses o que
deixa realmente para a posteridade. De forma séria, de peitos abertos, em vez
de se permitir que lacaios seus andem a envenenar as populações rurais com a
ideia de a CDU se preparar para fechar sedes das juntas de freguesia
unificadas. O disparate não podia ser maior. Feio, feio.
É evidente que todas as gestões
têm aspectos positivos e negativos. É elementar.
Contudo, o que está aqui em jogo não
são as gestões da CDU antes de 2001, como alguma gente quer fazer crer. Essas foram avaliadas pelos
eleitores oportunamente. Em 2001, claro está. E os eleitores sancionaram a CDU apesar do apoio
esmagador que deram durante mais de duas décadas ao Abílio Fernandes. Em suma, o que está aqui a ser avaliado,
como prevê a democracia, é a gestão PS na autarquia de Évora. E é sobre essa
que os eleitores se vão pronunciar no próximo domingo.
Espero que o façam em
consciência, embora não possa deixar de me sentir decepcionado por ter que
dizer hoje e sempre que, em democracia, não vale tudo.
1 comentário:
O povo eborense não foi em conversas e deu a vitória a cdu. No entanto por algum motivo em algumas freguesias rurais, o ps conseguiu iludir as pessoas.
Enviar um comentário