27 de setembro de 2004

à tout propos (6)

FUTURO, NÃO FUTURO, FUTUROS
Com referência ao tempo presente, não podia deixar de recuperar um texto que me parece bastante conveniente e actual, tendo saído da pena de José Pacheco Pereira numa Grande Reportagem. Como neste espaço damos voz a todos e dada a conjuntura actual, nomeadamente no que toca à ocupação de lugares de poder - Santana é PM, Portas é Ministro da Super-Defesa e das Alforrecas, Sócrates é Secretário Geral e Nobre Guedes do Ambiente - não hesitei em transcrever parcialmente o texto que se segue.
Prestai atenção, vos pede este vosso servidor...
"(...)A máquina da democracia resulta da combinação da separação dos poderes, com o primado da lei e os mecanismos de representação, e todos estes mecanismos necessitam de um tempo e de um espaço em que a virtualidade do real perturba, primeiro, e depois nega (...).
As eleições, ao permitirem a representação democrática no parlamento geraram o único mecanismo que funciona para derrimir os conflitos de carácter político e para exercer uma contínua vigilância sobre os executivos, a instituição parlamentar. É o parlamento, mais do que qualquer outra instituição democrática, que está em crise devido à sua completa incapacidade competitiva com o império mediático e o populismo que ele naturalmente nega. O local onde a democracia se materializa e fala, não é ouvido por ninguém (...).
O parlamento está ameaçado no principio da representação pelas pressões para a democracia directa, para as sondagens permanentes, para o voto pela televisão, pela incomunicabilidade mediática da argumentação em tempo de soundbites. Tudo mecanismos que apontam para uma realidade não democrática, a chamada «democracia directa», tornada possível pelos novos meios electrónicos.
A tentação de voltar ao ágora grego, materializado pelo voto instantâneo sobre issues selectivas, é muito atractiva para um mundo dominado pela emotividade televisiva e educado pelas pseudo e contínuas sondagens de opinião, foruns, sondagens telefónicas, que dão às massas uma ilusão de participação política em tempo real.
(...) A forma moderna mais eficaz de socializar a demagogia em política é o populismo. O populismo ,oderno é essencialmente mediático, vive na televisão e vive de aparecer. A propaganda de um político populista é o número de vezes que aparece seja porque motivo for, dado que o conteúdo não é relevante.
O político populista fornece assim um contínuo com o mundo do espectáculo, com as opiniões do vulgo, com as reacções comuns, tornando-se um factor de reforço da vida política como reality show.
O ideal do político populista é a arena televisiva, onde se confronta com os seus iguais num espectáculo teatral, sob o aplauso das respectivas claques e com os espectadores a votarem em directo".
PEREIRA, José Pacheco (2003): "Futuro, não futuro, futuros", Grande Reportagem, n.º 150, pp. 56-57.

Sem comentários: