19 de outubro de 2004

em de-talhe

AINDA A CENSURA...
Hoje, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, foi ouvido pela Alta Autoridade para a Comunicação Social, a respeito do caso «Marcelo».
Pasme-se, quando este indivíduo vem agora dizer que se tratou de uma cabala política contra o governo, orquestrada pelo próprio professor Marcelo Rebelo de Sousa, em conluio com os jornais Expresso e Público.
Convém contextualizar esta situação. Estamos a falar de um ministro e não de um vendedor de cebolas (com todo o respeito que me merece quem venda esse tipo de tubérculo); estamos a falar por isso, de um membro do governo a opinar para os órgãos de comunicação social em nome do governo, num local de alta carga simbólica e institucional e na condição de ministro dos Assuntos Parlamentares. Por estas razões, a posição revelada hoje pelo senhor ministro é extraordinariamente absurda e miserável porque é ele o principal responsável pela polémica gerada, ou pelo menos, é ele o rosto da mesma.
Foi ele quem manifestou, em representação de todo o governo, a sua indignação pelos comentários supostamente eivados de mentiras, proferidos por Marcelo, sugerindo que naqueles moldes (sem principio do contraditório) não seriam toleráveis. Como se não estivesse consagrada a liberdade de expressão, como se a opinião fosse sancionavel judicialmente, como se a pluralidade de opinião fosse proibida, como se o governo não fosse criticável…

Faço um apelo à memória para que não deixemos de considerar que este senhor não é nem um aprendiz de político (militante do PSD desde 1978, deputado à Assembleia da República entre 1979-83 e 2002-04, membro das assembleias municipais de Lisboa e Cascais, membro de diversas comissões parlamentares), nem o governo de que faz parte poderá mostrar ponta de ingenuidade na relação com a comunicação social, revelando minúcia e ardileza no trato com este sector: é a ascensão mediatizada a lideranças de clubes de futebol, câmaras municipais e ao governo pelo seu actual líder; são os cuidados evidenciados pela profusão de assessores de imprensa; é a ambição de criar um órgão regulador da informação, ou seja, um filtro… Não foi da sua casa de campo, no meio de um barbecue que vimos Gomes da Silva trajado de fato-de-treino a aventar palpites.

Cabala? Tiro no pé, é o que é… Se a comunicação social tivesse dado à situação o tratamento que o Sr. Ministro pretendia, nesse caso, o que seria? Perante tamanha irresponsabilidade só há uma saída e mesmo assim, da desconfiança e da instabilidade política (que a todo o custo o Sr. Presidente da República pretende disfarçar) não se livra este governo.

PS: ah, já agora, alegrem-se os que vão ver baixar o IRS e ver aumentado o salário. Mas, façam as contas os que poupam e os que têm créditos à habitação (que não são poucos), para verem no final do ano como pode ser paradoxal uma diminuição de IRS… é que, não há almoços grátis, dizia o outro.

PPS: disfarçar um elefante numa plantação de morangos, pintando-lhe as unhas de vermelho não é senão um chiste…

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