24 de dezembro de 2004

à tout propos (87)

A MIRA MULTIÓPTICA DE MIGUEL SOUSA TAVARES
Ver o artigo Não há pressa de Miguel Sousa Tavares, sempre acutilante e algumas vezes sóbrio, no Público de hoje.
Apesar de concordar em quase tudo, não posso no entanto deixar de afirmar a minha discordância quando se refere à prolixidade e rigídez da Constituição, em particular quando apela ao facto de o documento continuar a prever a existência de Regiões Administrativas, tendo os portugueses recusado a regionalização, nas palavras dele.
Três reparos:
1. Os referendos, para serem vinculativos não prescindem que a maioria dos portugueses se manifestem, votando. No caso em particular, como é sabido, a abstenção foi de 51,71%.
2. Por outro lado, o modelo em causa, pelo qual, diga-se de passagem, nem o próprio PS (governo na altura) se bateu em bloco, era previsivelmente inadequado. Como se disse, a discordância quanto ao modelo em causa, no seio do PS era evidente e a proposta sofrível.
3. Finalmente, na minha opinião, figurando esse nível de poder local na Constituição, nem sequer se levanta a necessidade de referendar a sua criação; apenas e quanto muito, o modelo. Para criar o Município e a Junta de Freguesia foi preciso submeter à apreciação do povo? Para criar essa incipiente extensão do Estado a que se dá o nome de CCDR também foi necessário elaborar referendos? Assim, a 1ª pergunta era desnecessária.
Em suma, ou se muda a Constituição ou se referenda apenas o modelo a implementar.
O RICO NATAL DE JOÃO BÉNARD DA COSTA
Ao lado do artigo de João Bénard da Costa, Recantos do Natal, os editores do Público deveriam ter também publicado um artigo a relatar como eram passadas as noites de consoada de 3 quartos da população portuguesa. Sem quaisquer pruridos gerados pela protegida noblesse portuguesa durante o Estado Novo e pelo que significava esse privilégio para a restante população, não me parece muito próprio falar dos «folhados de camarão com salada russa», «mousse de chocolate», «das criadas» e da «pilha de presentes» dos natais da sua infância, sem que os avós e pais de pessoas como eu falem do que tinha de especial essa noite para eles: das criadas que eram, das meias rotas que talvez fossem substituídas e da dádiva que significava uma humilde refeição em época de «pilha de fome».
Assim, os leitores poderiam ler os textos sem deixar de compreender que o Natal de João Bénard da Costa só tinha razões para ser mágico... E ainda bem para ele. Mau para os que com 20 anos já só tinham 20 dentes...




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