1 de março de 2005

Usança mui antiga, a da chibata

Hoje fui enviado numa missão de alto risco, para um local a abarrotar de militares, ex-militares, indivíduos que sempre sonharam com fardas, bombeiros e um ou outro civil, naturalmente olhado de soslaio. Ali, um gajo tem que ser um homem, comportar-se como tal e se estiver em campo aberto, não enjeitar a oportunidade de cuspirr para o chão, mandar um piropo a uma funcionária ou dar uma ajeitadela nervosa nos marros.
Lá estava também o inevitável oficial da GNR, impassível, olhar duro, postura inflexível, exemplarmente ataviado com reluzentes botas de cavalaria, barrete debaixo do braço, com as insígnias da GNR reveladoras do árduo trabalho com o Duraglite. Segurava porém na mão direita, imóvel, um singular objecto: uma chibata de couro com 50 ou 60 cm, ornamentada com os motivos da nobre cavalaria, em desafio ao ar.
Ora, hoje, mais do que nunca, continuo a questionar-me sobre o propósito daquele objecto permanecer integrado na farda n.º 1 (de gala, de honra) dos oficiais provenientes da cavalaria. Cagança, dirão alguns... Mas no meio de gente desarmada, em tempo de paz, sem cavalos por perto e, fundamental, sem moscas para enxotar, levanta-se uma questão fulcral: para que raio serve aquilo?
Não creio que se destine a disciplinar as hostes, caso a reunião degenerasse em discussão apaixonada ou até violenta (conforme os casos, assim o trato...). Certamente estaria na presença de homens disciplinados, pacíficos, mas pelo sim e pelo não, cá fiquei sentado não muito distante da porta de saída. Ainda para mais, não havia na sala uma única mulher. Naqueles meios a presença de mulheres é uma espécie de interdito, e confesso que isso aumentou significativamente os meus receios. Também não estou a ver o tipo arrancar de carro fustigando furiosamente o tablier enquanto desfere incisivos golpes com as esporas nos pedais.
Nunca fiando de homens fardados, de botas altas e com chibatas nas mãos. Nunca fiando...

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