Na sequência de um texto publicado no Mais Évora, escrito por um leitor descontente com o comércio tradicional, resolvi deixar o seguinte contributo, que aqui se transcreve na íntegra.
Há direitos conquistados que só muito dificilmente são suportados por um comércio tradicional envelhecido. Por isso mesmo será tradicional, em contraposição com o novo, a inovação, a substituição, o descartável.Sou da opinião que podem coexistir. Um e o outro.
E esse exemplo é-nos dado por imensas cidades e capitais europeias (dimensão à qual Lisboa só remotamente pertence), em que o tradicional não só é preservado como é uma importante fileira turística. Bruxelles, Barcelona, Roma, Madrid, Sevilla, Paris, Copenhagen, etc.
Acontece que nós por cá nem isso sabemos aproveitar porque facilmente nos deslumbramos com os neons, as cores, as miúdas a levarem o dia inteiro com música em altos berros enquanto passam o dia a dobrar a roupa que os clientes desarrumam, a comida de plástico, os encontrões e as filas para entrar no parque de estacionamento (e para sair).
Também frequento shoppings e estes dois serão benvindos. No entanto, uma cidade como Évora, fortemente vocacionada para o turismo, não se compadece com uma Região de Turismo a reboque dos acontecimentos e sem criatividade, nem com uma Associação Comercial do Distrito de Évora cujo dinamismo está ao nível de uma «venda» em qualquer freguesia rural. Só operações de cosmética, mas nisso, nós portugueses somos pródigos...
Não havendo condições para um merceeiro competir com uma grande superficie (apesar de normalmente apresentar melhores produtos), porque não associar-se com outros para conseguir preços mais competitivos, inovar na oferta e na imagem? Porque não evoluir para um tipo de serviço que leve os produtos a casa dos clientes, numa pequena carrinha de distribuição com uma taxa de 1€ sobre o valor das compras (ou outro mecanismo qualquer)? Porque não pedir ao filho para fazer um site e começar a vender cabazes de produtos biológicos (mais caros mas também cada vez mais procurados), ou brloques ou outra coisa qualquer pela net?Isto são ideias para estratégias, que talvez caiba à ACDE desenvolver e não a mim, que jeito pró negócio tenho muito pouco. Parece-me.
O comércio tradicional não tem que ser aquilo que se nos é apresentado e na forma como é. Os eborenses é que o fazem ser assim, e nesse caso, somos todos nós e não apenas os caquécticos e apáticos proprietários que «nunca estão abertos».Portanto, os shoppings são bem vindos e o comércio tradicional tem que ser aproveitado, começando pela sua adaptação às novas exigências e requalificação de alguns locais que provavelmente terão mais futuro dentro de grandes centros comerciais.
Em diversos pontos do mundo percebeu-se isso e com franqueza, não creio que o «progresso» passe necessariamente por locais de consumo de massa. Devíamos era começar a pensar em produzir...
É fundamental que nós, eborenses, alentejanos e portugueses compreendamos as dinâmicas de interdependência associadas aos processos da globalização e sobretudo, que olhemos para lá dos horizontes da planície.
E isso não é feito com marretas embrutecidos a servir «mines» na Praça do Geraldo, orientados por perfeitos idiotas amadores, cuja única vocação seria dar marretadas na cabeça à semelhança de dois yanomami em litigio.Esse não é certamente o meu modelo de comércio tradicional.
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