1 de junho de 2005

Constituição Europeia

Depois dos franceses, surgem agora os holandeses a dar a machadada final no Tratado Constitucional que as nossas elites à força e à pressa queriam implementar.
Contrariamente ao que dizem muitos dos nossos políticos e comentadores, o voto dos franceses e dos holandeses não reflecte necessariamente a situação política interna. Ambos os povos têm, genericamente, suficiente maturidade democrática, para saber distinguir o que está em jogo. Essa seria certamente a falácia dos portugueses, apesar de sabermos muito bem de onde é que vem o pão. Pois eles sabem muito bem quem é que o fabrica e quem o come...
Em todo o caso, o tratado constitucional que agora se referenda (nalguns casos, porque na Alemanha foi simplesmente ratificado pelo Bundestag) tem implicações muito para além das teias económicas, da saída de investimentos para países de leste e Ásia, das referências religioso-culturais e da aglomeração de uma série de tratados e declarações internacionais já ractificados pelos países da UE, outrora dispersos.
Esperar-se-ia que ingleses, alemães (que foram impedidos de votar) ou franceses, abraçassem um projecto de afunilamento das suas respectivas soberanias e interesses, a menos que lhes coubesse a eles a presidência vitalícia da UE, a cereja em cima do bolo? Nem sequer Schumann, no seu melhor sonho europeu, contaria com uma integração desta forma.
Porque esta, antes de mais, é a integração monetária e comercial da Europa e é com base nesse fundamento que foi construída, apesar dos melhores princípios democráticos e pacíficos que presidiram à criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
Que melhor forma de arregimentar todos estes novos 10 Estados-Membros e alguns dos antigos, do que pelos fundos de coesão?
Ainda há muito para ser discutido em Portugal e no resto da Europa. Discutir tudo aquilo que foi ostensivamente sonegado pelas nossas elites: é que estas, habituaram-se a viajar pela Europa fora há já muitas décadas e só agora o povo português vai descobrindo lentamente o pedaço de terra a que o seu país supostamente pertence...
PS: em matéria de referências, Giscard d'Estaing também se podia ter lembrado da escravatura, da inquisição, das sangrentas cruzadas ou das integrações nacionalistas, quase sempre opressoras, que ocorreram um pouco por toda a Europa.

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