Como se não bastasse levarmos com mais paulada na cabeça, ainda somos obrigados a levar com os tradicionais bodes expiatórios da política, neste caso para justificar uma série de medidas de cariz populista, embora necessárias para o saneamento pretendido.
Como se o PS não tivesse conhecimento da verdadeira situação financeira do país antes das eleições, como se Vítor Constâncio não fosse um destacado militante socialista, tudo se passa como se toda a gente neste país continuasse a padecer da mesma cegueira que tão jeito deu a Salazar, bem como às suas bem alimentadas elites. Casaca virada e muitas continuam a sê-lo, agora sob o signo da «democracia»...
Essa é mais pura lógica utilitarista e messiânica das «elites político-financeiras» portuguesas, que continuam a gerir de forma mais ou menos oficial, mais ou menos encapotadas, os destinos deste país. Os cidadãos não passam de peões, tal como os negros não passavam de servos, incapazes de se autodeterminarem. Nós, os que aqui andamos, somos todos ininputáveis e é exactamente no nosso interesse que actuam essas «elites».
Os privilégios que agora são abolidos, não são nada, comparados com as profundas assimetrias desenvolvidas pelo próprio Estado, ao se permitir conviver com cidadãos incumpridores do ponto de vista fiscal, prestando-lhes serviços com o dinheiro das minhas contribuições; ao conceder chorudas benesses a empresas cuja lógica é apenas a do lucro e por isso mesmo deslocalizam para qualquer parte do mundo sem pudor e de forma desprezível; ao investir milhões em nichos de empresas sem processos de avaliação do investimento, nem responsabilização de ninguém pela aplicação dos fundos, como sucedeu no Vale do Ave, e sucederá novamente porque ali as taxas de desemprego são o dobro da média nacional (entretanto é ali que estão concentradas grande parte das grandes fortunas portuguesas); ao permitir que em razão do interesse neo-liberal, se aprofunde a cisão entre interior e litoral, entre mundo rural e urbano e se acentuem as bolsas de pobreza e exclusão social em particular no centro megalómano de Portugal. A este respeito, o exemplo de ontem é elucidativo. Não basta reforçar a segurança policial. O que sucedeu ontem em Carcavelos é apenas um sinal de muitos outros que estão por vir, justamente porque neste país não se enfrentam os problemas de frente.
E a este respeito também, poderíamos ficar aqui interminavelmente a discorrer sobre múltiplos e infindáveis exemplos, cujo impacto é tão grande que medidas como as que têm vindo a ser anunciadas são perfeitamente inócuas. E no entanto são benvindas, com a excepção do agravamento do IVA em mais 2%: é que, mesmo compreendendo a política de deflação seguida com o aumento de impostos associado à diminuição do défice público, que se reflectirá em teoria, na descida dos preços e na diminuição de importações, a verdade é que serão as familias com menores rendimentos as que vão sofrer esse agravamento na pele. E aí, quero ver se o Estado português está preparado para incluir no Rendimento Social de Inserção, quase metade das familias portuguesas. Para não falar nos factores de produção portugueses, arrastados pela diminuição de consumo.
Actualmente, a ida a Espanha é paga pela diferença nos preços de combustível (para quem está até 100 Km), portanto... o último que feche a porta, dirão os nossos excelsos governantes quando vierem a ser nomeados para um cargo de direcção numa qualquer empresa pública, a auferirem chorudas «ajudas de custo»...
PS: a propósito, já andei de avião algumas vezes, pelo que posso afirmar com alguma naturalidade que já me acostumei ao meio, e reuni algumas experiências que me habilitam a falar com propriedade de aviões, cargas, raios x, comissários de bordo e revistas das companhias aéreas. Isso quer dizer que, caso fosse militante do PSD ou do PS, me habilitaria a ser Presidente da TAP? Isso seria óptimo...
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