10 de junho de 2005

Refreshment «aéreo»...

A recente polémica causada por uma previsível onda de calor a anteceder uma encalorada silly season e pela inexistência de meios aéreos no combate aos fogos, vem uma vez mais mostrar o retrato de um país mal preparado e mal organizado. Sobretudo, um país mal dirigido por sucessivas «elites» que supostamente representam um povo de tanga, mais bem diria, esfarrapado.
No caso em concreto, é certo que os meios aéreos para combate de incêndios só estavam previstos para o início de Julho. Essa decisão havia sido tomada pelo anterior governo e aparentemente com a complacência do actual, pois teve cerca de 3 meses para rectificar essa situação, caso não concordasse com ela e tivesse sido de facto mais previdente. As desculpas do ministro António Costa eram claramente dispensáveis, até pelo sacudir de responsabilidades para aspectos burocráticos inerentes às competências das autoridades aeronáuticas polaca e portuguesa.
O que resulta incompreensível é que, perante situações de relativa excepcionalidade como a onda de calor dos últimos dias, não esteja previamente delineada uma correspondência excepcional em termos de medidas de resposta operacional.
Não existem planos de contingência para enfrentar essa excepcionalidade que, de resto, era mais previsível do que cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Não existindo planos de contingência verdadeiramente aplicáveis, também parece não haver suficiente flexibilidade e destreza mental para «desenrascar» com helicópteros actualmente disponíveis nos três ramos das Forças Armadas. Bastaria adaptar os «baldes-reservatórios» que no caso de não existirem ou serem insuficientes, imediatamente recorreríamos aos planos de contingência das Lojas da China e em três dias seríamos inundados com baldes made in china.
Na verdade, temos planos de contingência militares vocacionados para potenciais crises resultantes da ameaça à soberania ou de questões humanitárias. Parece óbvio que incêndios de enormes dimensões a colocar em risco de vida centenas de pessoas, não são questões que justifiquem a entrada de militares ou os custos inerentes ao voo de um aparelho militar. A vida das pessoas não o justifica. Isso é claro.
Por outro lado, só agora é que o INAG se lembrou de fazer um plano de contingência para racionalizar o consumo de água doméstica, industrial e agrícola, com os anunciados transvazes e condicionamentos no acesso à água. Uma vez mais, é incompreensível que as instituições não sejam elas próprias inteligentes e pelo menos aprendam com os próprios relatórios que produziram e com os que recebem dos organismos internacionais. E não há muito tempo estava numas jornadas de reflexão organizadas pela Protecção Civil de Évora, justamente a ser recordado pelo responsável do INAG para a gravíssima situação decorrida em 1993, 1994 e que havia de culminar com a severa seca de 1995. Muitos hectares ardidos depois e inúmeras populações anualmente privadas de água, eis que finalmente surge o INAG, a anunciar a elaboração de um plano de contingência.
Do alto de uma descomunal sobranceria, o INAG não só se mantém passivo como repreende as autoridades locais que manifestam a sua preocupação junto do governo, pelo uso abusivo de águas públicas para regadio. Neste país tudo é possível e por este caso se verifica como a lógica da paz podre e das alianças feudais se sobrepõe à lógica da competência e do brio.

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