17 de julho de 2005

A defesa da coerência

É raro ver em Portugal, políticos que quando no poder, resistam a dar as suas facadinhas e se consigam desprender dessa visão pedante e mesquinha, característica das suas ambições desmesuradas e da cristalização dos partidos, respectivamente. Em nenhum dos casos, integralmente aceitáveis quer do ponto de vista do bem público, quer do ponto de vista da funcionalidade das organizações.

Na entrevista a Luís Amado, ministro da defesa, publicada no jornal Público de 16 de Julho, este governante não só dá mostras de verdadeiro sentido de Estado como nunca enjeita o «embarbelamento» fatal causado por essas concepções «partidiotas» que levam os Executivos a acusar mecanicamente todo e qualquer trabalho que lhes seja «pré-histórico» e ideologicamente pouco familiar. Mesmo que não saibam porquê.

E fá-lo, criticando os três últimos governos (entre os quais o último de Guterres) pela política de descontinuidade seguida na defesa, enaltecendo em contrapartida, o trabalho desenvolvido por Fernando Nogueira (ministro da defesa de Cavaco Silva) e que, como em muitos outros ministérios, não foi seguido pelos seus predecessores por razões por vezes mais pessoais do que partidárias: forças armadas à imagem do estratega, qual Napoleão «Portas», «Simão», «Pena» e outros.

Ao não se coibir de discordar com a ausência de estratégia transgovernamental, Luís Amado, mantém a necessária coerência e discernimento que lhe permitem demarcar-se dos habituais queixumes dos partidos quando se tornam governo, assim como esse rol de irresponsáveis coadjuvados por incompetentes afilhados.

Cabe ao Ministro da Defesa ser coerente com as suas declarações.

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