12 de julho de 2005

«Estou bem? E o cabelo?»

Das duas uma: com a manutenção dos subsistemas de saúde da GNR e da PSP [evidenciando um recuo algo surpreendente, ou talvez não], ou o governo dá sinais de fraqueza ou dá mostras de uma política titubeante, reveladora da mesma ausência de rumo que reconhecíamos sem dificuldade em Santana Lopes - será isto mais uma calinada do super-ministro Costa?

As coisas são assim postas cruamente porque não é crível que houvesse uma estratégia predefinida para diminuir os focos de insatisfação, anunciando o Carmo e a Trindade para depois recuar em matérias que não constituíam verdadeiras opções de partida. Ganhar-se-ia o adestramento sem despoletar indesejáveis convulsões sociais. Uma concordata relativamente fácil, portanto. Claro que, para além de pouco correcto, o governo arriscar-se-ia, ainda assim, a semear tempestades incontroláveis, tendo em conta a actual deterioração do rastilho.

Por conseguinte, a única medida de vulto que se mantém é a abolição do rol de possíveis beneficiários que os titulares podiam trazer acoplados aos seus cartões (filhos, pais, avós, primos, vizinhos, cães, gatos, etc.). O que já não é mau, pois o universo de utentes reduz-se significativamente para metade dos actuais 240 mil.

Todavia, uma coisa começa a ser evidente: apesar de pretender instituir outro tipo de relação com os media, nomeadamente através da gestão da agenda de jornais, rádios e televisões, o actual governo não parece diferir excessivamente do precedente, pois preocupa-se sobretudo com a gestão de expectativas e da sua imagem junto da opinião pública. Ou alguém tem dúvidas que um suposto combate aos «privilégios» cai sempre bem entre o povo? Da mesma forma que um governo «corajoso», reformista, credível e trabalhador?

Sócrates conhece a cartilha de trás para a frente: sabe que para ter sucesso depende muito dos media e da capacidade de doutrinação de que dispõem, na transmissão de uma mensagem circunscrita e delimitada pela sua visão do mundo. Por isso arregimenta-os, procurando gerir os seus silêncios e os do governo (que se vai contendo a custo), para assim determinar a acção dos meios de comunicação e dos próprios partidos na oposição. Marca-lhes a agenda, literalmente dois dias antes da discussão, como de resto se viu com o anúncio do PIIP ou da reorientação estratégica do PRIME.

No entanto, a evidente descoordenação observada nas linhas orientadoras do governo não pode ser escamoteada. Sócrates, Freitas do Amaral, Campos e Cunha e até o indefectível António Costa protagonizaram episódios caricaturáveis nuns casos, perfeitamente absurdos noutros. E isto, no governo de Santana Lopes havia de se pagar caro. Tal como se pagou. Ainda não se chegou às acusações de perda de confiança e às «facadas nas costas» mas não nos podemos esquecer de uma coisa: Sócrates começou com 52,2% de popularidade, enquanto em Julho de 2004, Santana tinha um saldo positivo de 10,5% (Marktest).

Uma advertência: governar para a comunicação social até pode trazer benefícios para o governo mas não aportará nada de relevante ou positivo para a população, como de resto temos visto ao longo de 30 anos de democracia em Portugal Continental e no Governo Regional dos Açores.
Entretanto preparemo-nos para a invenção de mais receitas extraordinárias ou em alternativa, de impostos. É que nem o governo nem o Banco de Portugal conseguem acertar com o orçamento. Falávamos de credibilidade?

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