Há dias em que um gajo desperta bem disposto e concede umas breves tréguas ao mundo que o rodeia. Há desses dias, em que essa transformação é pautada em simultâneo por uma vontade de dar uma generosa paulada nesses ressabiados que um dia, mortos de inveja e frustração, se puseram a denegrir uma geração inteira, com as ignominias do costume, destilando amarguras para cima dos seus próprios filhos, netos ou sobrinhos.
Após a minha geração [à] «rasca», sucedem-se outras gerações, que pelas suas atitudes colectivas e comportamentos, serão sucessivamente mais escabrosas, parasitas e letárgicas. Aos olhos dos mesmos velhos do Restelo, que se babam interior [e exteriormente, nalguns casos] quando lhes passa ao largo uma jovem imberbe e vistosa, com nacos de pele a descoberto aqui e acolá. A «saboneteira», completaria o bom amigo…
Em causa, uma mudança de valores, incompreendida e mal aceite pelos representantes do pior registo cultural que grassou por Portugal durante boa parte do século XX. Os ritmos são acelerados e as mudanças, inauditas. Um desfasamento entre comportamentos e mentalidades.
Mas, se há dias em que um gajo desperta particularmente bem disposto, isso deve-se à refutação em toda a linha de tais estereótipos. Para além da simpatia e admiração pelas gerações mais recentes, pelas suas capacidades de realização em diversas áreas, não poderia deixar de particularizar esse orgulho na actuação de ontem à noite de um grupo de «crianças» a tocar jazz. No café da moda, em Évora (a propósito, nesta matéria, quando é os restantes empresários da noite se começarão a preocupar mais com os seus clientes, e evoluir para um conceito diferente do de «vendas de bebida alcoólica»?)
A maturidade, o conhecimento, a técnica e sobretudo, o gosto de estarem ali a tocar para uma plateia ligeiramente interessada, projectam o Quarteto Joana Espadinha para o melhor que se faz em Portugal. O virtuoso contrabaixo, a explosiva trompete (elemento emprestado para as duas últimas músicas), a melodiosa guitarra, a técnica apurada na precursão e uma voz bem colocada e sóbria, denotam muito trabalho e dedicação, uma infinidade de recursos e um potencial «bárbaro». Não têm mais que 21 anos…
Mas não... «antigamente é que era bom...»
Tocam maravilhosamente, com alma e apurado profissionalismo para aquelas idades. E… francamente, gostava de os ver a tocar num clube de jazz em Nova Yorque, daqui a 30 anos. Oxalá pudesse estar na primeira fila. Nestes como em tantos outros, o que se pede é que não sejam reprimidos pelas frustrações e incompetências dos gate keepers. Dessa geração sobrevivente que ainda hoje se julga a pátria da democracia, o esteio da competência. São estes quem tem governado este país. É bom não o esquecer.
Um bom dia! De chuva, mas bom!
Um bom dia! De chuva, mas bom!
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