3 de março de 2006

Do Princípio da Confiança




O insólito caso ocorrido no Montijo em que uma transeunte detecta três aves sem vida na via pública sem que seja prestada a devida atenção pelas autoridades (in)competentes, não será certamente um caso isolado. Não é, sem dúvida, um caso avulso que não tenha tido outras manifestações análogas - no passado e no presente - noutros domínios sob a responsabilidade de algumas entidades públicas.
Perante o drama hipotético de uma pandemia, resultante da estirpe H5N1 da «gripe das aves», se alastrar aos seres humanos, ao se deparar com três pardais mortos, uma moradora não fez mais do que o seu espírito cívico e inúmeras entidades aconselham nestas ocasiões: alertar imediatamente as entidades competentes. Neste caso, a moradora entrou em contacto com a Câmara Municipal, Serviço Nacional de Saúde e Bombeiros.
Só 46 horas depois é que um técnico da Protecção Civil (da responsabilidade directa do Presidente da Câmara, antigamente dos governos civis) se deslocou ao local para remover os animais.
Mas o caso assume contornos de particular boçalidade, quando dos bombeiros alguém responde à senhora: "nós aqui tratamos dos vivos, não dos mortos. E muito menos de animais". Claro está que neste imbróglio, ninguém se preocupou sequer nem com cruzamento de informação, nem com a pandemia...
Resta-nos constatar envergonhados, o estado deplorável da Protecção Civil em alguns sectores, demasiado dependente dos humores e sensibilidade de quem decide. Como de resto, um pouco por toda a parte neste glorioso e decadente país.
Quanto a nós, a moradora em causa cometeu um erro clássico, de tão previsível que é: confiou nos serviços.

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