24 de março de 2006

O Fim?

O comunicado lido pelos tradicionais etarras encapuçados, renunciando à torpe luta armada e em consequência, ao terror (nalguns casos visando «inocentes»), afigura-se como uma notícia impar, um sinal de esperança. No entanto, manda a prudência que governo espanhol e comunidade internacional acolham a notícia com especial cautela. A situação regista precedentes, relacionados com a tentativa de ganhar tempo para proceder a reorganizações internas.

A ETA caiu exaurida, sem forças foi definhando, após mais de 4 décadas de luta sanguinária. Mas, ao contrário de noutros sítios, nem a ETA baseou a sua existência nas acções puramente indiscriminadas contra alvos civis, nem o governo integrista espanhol cedeu à tentação de regular a sua conduta pelo patamar mais rasteiro, o da lex talionis, isto é, olho por olho, dente por dente. O direito hebraico e a perigosa toleima americana (e outros países) nunca foram muito complacentes com as povoações «hospitaleiras de terroristas», deixando que as represálias se alastrassem até ao decrépito cão da vizinha, cego, surdo e coxo de três patas; mas pouco afortunado por se saciar com um pouco de frescura proporcionada exactamente pela sombra do plátano, onde se abateu um insensível obus…

Em todo o caso, no comunicado havia uma insistência implícita e óbvia, que apelava à necessidade de dar a possibilidade às comunidades bascas para se expressarem acerca da sua eventual autodeterminação e unificação num único estado-nação basco. Palavras de circunstância para deixar a cara lavada ou reivindicação subliminar, o certo é que há muitas feridas por cicatrizar, muitos caminhos a percorrer no sentido da pacificação. Essa insistência não passou despercebida... Mas que se não renuncie à luta, se é essa a vontade colectiva. Esta é a oportunidade para prosseguir, num quadro de democracia e respeito pelos direitos e garantias, isto é, a luta política na defesa dos direitos dos bascos. Sejam integrados ou autonomizados. O importante é que os canais de diálogo e respeito mútuo se mantenham abertos.

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