4 de maio de 2006

Aceito Copular com Fémeas Férteis Para Efeitos de Reprodução e Isenção Fiscal

Desgraçados dos impotentes, dos homossexuais e dos celibatários – forçados ou voluntários. Conceber filhos deixou de ser uma opção. É agora um imperativo que condiciona a bolsa, independentemente da vontade e da maturidade em ponderar racionalmente sobre as condições convenientes à reprodução. Conforme os casos.

Deixou de ser uma opção, e em contrapartida a decisão de reproduzir poderia e deveria ser antes, objecto de uma política de incentivo à natalidade.
Deste modo, mesmo que não se deseje ou não se reúnam condições objectivas para ter filhos, os contribuintes serão penalizados pela má conduta de não reproduzir. Ter filhos passa a ser conditio sine qua non para receber a mesma remuneração que o colega do lado. É certo que o colega do lado gasta dinheiro com os filhos. Grande coisa!... E eu gasto com borga, com viagens e com os meus devaneios. Que raios tem o Estado que ver com isso?
Chegamos os dois lisos e a tinir ao fim do mês. Contribuímos para estimular a economia através do consumo, pagamos impostos directos e indirectos, somos taxados por tudo e por nada. Opções que se tomam consoante os interesses, aspirações, objectivos.

Quanto muito, o colega do lado (que passará a ganhar mais do que eu porque assumiu a dura opção de ter filhos), deveria ser considerado um herói por multiplicar a sua unidade familiar e pelos grandiosos serviços prestados à pátria. Deveria pois ver os seus esforços recompensados, à laia das cabeças de gado subsidiadas pelos generosos fundos comunitários. E receber com popa, o colar da grão-cruz-da-reprodução.

Há, porém, aqueles que tentam. E tentam com muita força e regularidade. Diligenciando junto de solteiros(as), casados(as), divorciados(as), casados(as) e até mutantes. Sem resultados práticos, a não ser uma perseguição pelo companheiro, uns sopapos ou o cigarro final pós-coital. Agora sim, percebe-se a complexidade do pensamento de João Paulo II, um visionário que a essa altura – da proibição do uso de contraceptivos – já temia pela bolsa dos portugueses. Terá Sócrates ainda em criança, em confissão ao Santo Padre, dado conta dos seus propósitos?

De qualquer modo, fica desde já um conselho ao governo para aumentar a colecta fiscal (pois é disso que se trata e não de sustentabilidade da segurança social): porque não aumentar a contribuição à Segurança Social, àqueles que não gostam de repolho?

O argumento de que são os nossos filhos quem vai pagar as pensões aqui dos velhotes é absurdo e deselegante. Nada me garante que os 5 filhos do colega do lado não venham a morrer, ser doentes crónicos ou desempregados de longa duração. Agradeço reconhecidamente que os filhos dos outros me paguem a mísera pensão mas por essa ordem de ideias talvez seja mais aconselhável cada um se ocupar do seu quintal e regredir até à fase em que os filhos eram projectados como força de trabalho, como a pensão de reforma dos pais. Nesse caso, desgraçados dos desvalidos sexuais porque não me parece que o aforismo «emprenhar pelos ouvidos» tenha sido considerado nessa aritmética.

Por essa ordem de ideias nem sequer faria qualquer sentido a ideia de Estado. Muito menos a de Estado-Providência. Logo, a ideia de solidariedade social alicerçar-se-ia no vácuo, seria um perfeito logro exactamente porque pressupõe a obediência a um vector calibrador das desigualdades, assente no princípio da solidariedade inter e intra-geracional.

Finalmente e porque de facto é a sustentabilidade da segurança social que está em causa, o alargamento dos activos contribuintes pode evidentemente ser uma das medidas possíveis. Mas há muitas outras: acabar com os luxos e benefícios principescos que animam os altos cargos públicos, estender a contribuição (por níveis de rendimento) aos reformados, aumentar a colecta das contribuições sociais das empresas (são, dizem as más línguas, dois os terços de empresas faltosas), ou simplesmente combater o desemprego.

Há ainda outra que agrada particularmente: promover a imigração qualificada e deixar que esse equívoco genético – o português – se evapore nos anais da história e se extinga para sempre para dar lugar a um homem novo, um homem imperfeito.

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