3 de julho de 2006

Amor de Perdição

Há, nos conflitos, um hábito muito cordato e de alguma forma, romântico, que consiste numa troca. Troca de ameaças, de bombas, de prisioneiros, de cadáveres, de carnificinas, de saques e até de cromos. A troca, elemento crucial nas interacções humanas, foi objecto de um belo ensaio de Marcel Mauss, no qual a troca de artefactos, pessoas e outros objectos entre as comunidades indígenas do pacífico sul e da América do Norte, estimularia a reciprocidade e a formação de alianças.

A romântica relação entre palestinianos e israelitas tem contornos semelhantes, nomeadamente ao nível da troca de explosões, raides, tiros e ódio. E com efeito, à medida que o tempo passa, vão-se reforçando os laços de reciprocidade, permitindo-nos perceber claramente como a sobrevivência de uns depende da malquerença dos outros e vice-versa. É comovente observar tamanha afeição, um caso raro de solidariedade entre os povos.

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