2 de janeiro de 2007

Ó Careca, Ó Careca Tira a Boina!

Ano novo, vida nova. As mudanças são evidentes. Há as que são rotineiras e as que são perturbadoras. As rotineiras aferem-se pelo aumento dos combustíveis, das taxas de juro, das portagens, da água, da luz, do tabaco. Em suma, da inflação, logo, do descontentamento geral.

Mas também se aferem pelo aumento das desigualdades sociais, confirmadas pela perda de regalias na base, contrastando com a manutenção de regalias no topo. Assim é que é bonito porque aos muitos é que compete pagar os luxos aos poucos. É do direito natural das coisas.

De resto, as mudanças rotineiras são sentidas pela reconhecida afirmação grandiloquente – característica dos povos periféricos – da identidade cultural portuguesa, nessa capacidade de exacerbar a diminuta realização. Engrandecemos ao inflamar no espírito a vocação hipócrita, o lunatismo e a pequenez. Louvamos a insuficiência e a experiência estética mais etérea.

Portanto, vivemos num país incapaz de se confrontar com o sentimento agoniante da regressão, do decréscimo, da ausência de progresso, da pobreza. Dotados de uma inacreditável capacidade argumentativa, eivada do mais extremado relativismo, não toleramos que o bom pai europeu nos dê tau-tau sempre que, contra todas as fracas previsões, nos vai descobrindo a careca e a exibe, pedagogicamente, aos irmãos mais novos (eslovenos, checos, polacos, etc.).

As mudanças perturbadoras são aquelas que constituem surpresa. Entre estas, a mais surpreendente de todas é aquela do… coiso. Aquela da cena que… epá, coiso…

Mas nem tudo vai mal. Ainda não temos 90% de pobreza e não se estima que a evasão fiscal ultrapasse os 110%. Além disso, ainda não temos a corrupção totalmente institucionalizada e crê-se, repito, crê-se que em 2007 baixe qualquer coisinha. Diz-se que o poder de compra vai baixar mas ainda não há confirmação pelas autoridades oficiais.

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