26 de março de 2007

Volta Paizinho, Estás Perdoado!



Se, na maioria dos casos, bastaram cinco ou seis anos de depuração no Brasil para que os nossos fascistas regressassem em glória e reassumissem as suas posições cimeiras, agora sob a égide da democracia, no caso de Salazar a realidade era bem diferente. Afinal de contas, simbolicamente, o tirano era o vértice de uma ruindade que se instalou em Portugal perdurando 48 longos anos. Muito para além desses anos, pois metade do nosso atraso estrutural actual, devemo-lo a esse período. A outra, devemo-la à beatice, toleima e prostração dos nossos monarcas do século XIX, apostados em manter o povo na obscuridade, numa altura em que a oportunidade de progresso dada pela Revolução Industrial foi aproveitada nos restantes países da Europa. Atraso estrutural num país, em suma, onde as elites políticas se confundem com a imbecilidade rota e decadente de quem se tem por pastor de um rebanho de carneiros. E o é, efectivamente.

Dadas as circunstâncias simbólicas, o saneamento de Salazar termina trinta e sete anos após a sua morte, ou melhor, três das gerações mais recentes sem contacto com o ditador. «Só» trinta e sete anos, porque este é o país onde a herança salazarista do analfabe(s)tismo, da heteronomia individual e boçalidade com tiques autoritários são pesadíssimos, denunciando a atracção, também ela estrutural, pelo cajado do pastor.

Os resultados desse programa de televisão promovido com capitais públicos – Os Grandes Portugueses, na RTP1 – só vêm revelar que, além desse masoquismo, o povo é estúpido, ignorante e não tem apego pelos valores democráticos. A este respeito, são suaves as interpretações de alguns insignes comentadores políticos, que vêem essa votação como um sinal de protesto dado pelo povo à classe política. Não, esse sinal pode ser dado nas urnas, votando massivamente no PCP, no BE ou no CDS-PP. Mas tal não sucede porque para além de boçal, masoquista e néscio, o povão é cobarde.

Consola o facto de a televisão, enquanto veículo de comunicação de massas, ser o órgão de comunicação privilegiado por esta chusma de obtusos portugueses para apreender «conhecimentos». Portanto, um meio de comunicação à medida da cretinice transpirada pela Direcção de Programas da RTP, evidente na simplicidade com que o formato televisivo trata questões essenciais, de natureza incomparável e, sobretudo, com um alcance desmesuradamente absurdo e nada inócuo ao nível da interiorização persuasiva de modelos de comportamento.

Finalmente, para dar sustento ao desiderato deste Portugal acanhado, mesquinho e mentecapto, resta que regresse um Salazar para que aí sim, se faça uma revolução séria e à séria, sangrenta e bárbara, que remova à cacetada as metástases deste descomunal cancro.

4 comentários:

Anónimo disse...

antes que "algum paizinho" volte proponho uma manif. SÉRIA...
Bora?
Estou quase, quase nos limites!
Alguém se junta?

Anónimo disse...

(já)n consigo falar de Portugal sem uma ponta de azedume, de pena, de mal-estar.... Será isto a aproximação a um limite?
Ou então estou a ficar velha..

NachtEldar disse...

As pobrezas (a material, a cultural e, embora com mais dificuldade, a de espírito) combatem-se com educação.
Portugal, historicamente e a nível dos sucessivos dirigentes, teve sempre outras prioridades.
Enfim, país de broncos costumes.

Anónimo disse...

Volta Salazar que estás perdoado.
A falta que fazes a este país, moral e bons costumes, inteligência e educação é o que falta neste país.

A Bem da Nação.
Viva Portugal.