22 de maio de 2007

Um floco de neve no Verão (iv)

"…passados anos um filho, que já fora pai, voltou. Desta vez para tapar uma vala. Puxou da enxada e fez cair a terra sobre o fundo da vala. Entre o fundo e o que impedia a terra de lhe tocar, encontrava-se uma exígua caixa de madeira, recém depositada. O segundo homem observava de novo. Desta feita estava perto. Não pronunciou uma palavra, apenas observou. Sentiu aquela terra húmida e pesada cair em cima da caixa, e a enxada empunhada pelo homem, e aquela lâmina gasta a raspar na terra. Não pôde deixar de imaginar o que seria sentir aquela zoada dentro da caixa… e os flocos? Pensaram ambos. Durante o inevitável cigarro que se seguiu, conversaram. Das valas, das valas em que já viram caixas, depositadas, e que dentro das caixas iam outros Homens e outras Mulheres, e que por isso não estavam ali. Falaram ainda de valas com caixas que se avizinham. E dos Homens e das Mulheres que vestirão essas caixas. E das enxadas, e dos ruídos, e dos homens que hão-de vir. E de nada no fim. Ficou apenas o olhar para longe... trás e frente".
Anónimo

1 comentário:

NV disse...

Após o cigarro apagado, os dois regressaram sentido a dor de quem parte e partiram sentido a dor de quem regressa.
Caminharam enfim...
...um com a esperança de voltar e o outro com a certeza de não mais tornar.