12 de agosto de 2007

Silly Season II

Será do tempo ou de outra coisa qualquer... e nem é coisa que espante, de verdade. A comunicação social é, por norma, criadora. Hoje, excepcionalmente, as redacções das televisões afinaram e engalanaram-se de estapafurdices. As boas notícias são não haver praticamente notícias, apenas curiosidades.

Registo de curiosidades:

Ficamos a saber que Portugal alcançou mais um feito histórico ao entrar para o Guinness Book of Records com a maior onda humana do mundo, ao passo que o Hospital de Castelo Branco deu um importante contributo ao choque tecnológico do governo ao adoptar um sistema informático implementado há um par de anos na maior parte dos hospitais portugueses; e nalguns nos EUA (esta é a curiosidade, o resto é desinformação). O casal McCann acha que as polícias europeias deveriam reagir mais cedo ao desaparecimento de crianças. Estariam certamente a pensar num alerta accionado a partir do quinto minuto e na transferência da tutela das crianças para outras entidades que não os progenitores. Por essa via, certificar-se-iam que pais potencialmente negligentes não o viriam a ser. Mas também vimos como um corpo harmonioso é um corpo nu, enquanto se informava que o Chelsea não perde há não sei quantos jogos em casa. Foi igualmente registado um sismo nos confins da cordilheira central que terá entrado clandestinamente em Portugal, desafortunadamente, sem expressão para ser considerado pelo Guinness Book of Records.

Registo de notícias:
O Sporting venceu a Supertaça, o italiano Grillo venceu a etapa da Volta e a Câmara Municipal de Sabrosa homenageou Miguel Torga no centenário do seu nascimento.

Registo de casos:
O governo não se fez representar nas comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga em Coimbra.

Registo de lamechices:
Visivelmente emocionda, a filha de Miguel Torga enalteceu os poemas que o poeta lhe dedicou em criança. A mão do jornalista que segurava o microfone ficou visivelmente trémula.

É este tempo incerto que, de mofo e bafiento, imprime desorientação nas pessoas e lhes tolda a lucidez com náuseas insuportáveis. Via-se na cara do pivot da RTP. E imagino, nos milhares de pessoas enterradas no sofá que viram assim defraudadas as suas expectativas quanto a notícias sobre centenas de mortos no Darfur, as cuecas do primeiro ministro, ataques à bomba no Terreiro do Paço ou uma sessão de bofetada no Bolhão, entre uma peixeira e Paulo Portas.

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