28 de março de 2008

Para desilusão dos espectadores

A formalização da prisão preventiva decretada aos dois suspeitos de envolvimento na morte da pequena Mari Luz deverá relançar a discussão sobre a condução do caso «Maddie» pelas autoridades portuguesas. Não havendo vestígios de rapto ou de assassínio no caso ocorrido em 3 de Maio de 2007 no Algarve, a Polícia Judiciária foi confrontada com um vazio tenebroso, alargado pela nebulosidade com que alguns princípios básicos de investigação foram infestados pela acção dos media e de outras pressões internacionais.

Talvez por isso e conhecedor do processo é que o próprio director da PJ desabafou há alguns meses sobre aquilo que considerou ter sido alguma «precipitação» na constituição dos pais de Maddie como arguidos num processo sem uma única ponta solta. Sem história, sem menina e com análises laboratoriais falíveis percebe-se, das palavras de Alípio Ribeiro (director da PJ), que a hipótese de rapto continuaria a ser muito consistente, não devendo por isso ser abandonada. Como de resto é, após um curto espaço de tempo, na maior parte dos casos em que há crianças raptadas em Portugal. Acontece que as autoridades judiciais ter-se-ão visto na contingência de apresentar resultados, ainda que assentes em indícios frágeis.

Em contrapartida, a descoberta do corpo sem vida de Mari Luz confirma que as autoridades espanholas nunca colocaram de parte a hipótese de rapto nem a de homicídio, trabalhando nos dois sentidos. E têm dois suspeitos para apresentar. Resta saber se o são realmente ou se foram forçados pelas autoridades a sê-lo. Também é justo afirmar que a exposição mediática do caso foi imensamente menor.

Na novela «Maddie» o fim não está à vista mas também não é portador de novos desenlaces, como era apanágio de séries veteranas como «Dallas», apesar de incluir uma trama intricada de relações improváveis, motivos insondáveis e avaliações de carácter lunáticas e perigosas, como foi o caso do especialista espanhol que Fátima Campos Ferreira desencantou em Madrid na véspera do programa televisivo «Prós e Contras».

Não obstante os pais de Maddie serem o suspeito ideal em qualquer ficção escrita por Sir Arthur Conan Doyle, a verdade é que essa suposição é demasiado perfeita para ser real, não querendo afirmar com estas palavras que não é, até porque em alguns casos, as melhores surpresas são as que menos óbvias nos parecem. Para desilusão dos espectadores.

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