25 de março de 2008

O anti-relativismo das coisas

O reverso do anti-comunismo primário parece reflectir uma espécie de anti-autonomia primária do homem, ou seja, um determinismo boçal da sociedade e das relações de poder que dela emergem, sobre a liberdade e emancipação humana, doravante acrítico e zeloso cumpridor das normas ditadas por uma entidade que lhe é exterior. A este respeito, importa reter que o poder é um recurso que, à semelhança de outros como por exemplo o conhecimento, segue uma distribuição assimétrica. A excepção confirma sempre a regra e a natureza humana é o que é.

Em democracia, o peso das instituições sociais e políticas sobre os homens é excessivo, porém, da complicada equação da sobrevivência, torna-se um mal menor quando comparado com outras realidades. Porque nesta, até os parasitas têm lugar. Aquela mesma aceitação do mal menor acabou sempre por ser resultado da relativização de situações em que se encontravam homens a definhar no Gueto de Varsóvia, nos gulags soviéticos ou no Tarrafal, nos quais, o colapso humano e a necessidade ditam a emergência de novas relações de poder entre os subjugados. Naquela miséria onde a dignidade humana se converte subitamente à nebulosidade de uma memória longínqua, na qual deixam de caber a maioria dos princípios. A não ser a necessidade de resistir e restituir a dignidade que, para uns consiste na implementação de regimes democráticos ou, para outros, na instalação de regimes teocráticos. E a mesma legitimidade. Mas raramente se pergunta ao povo.

Foi a relativização de princípios básicos que contribuiu para a neurose colectiva vivida pelos alemães desde a ascensão de Hitler até à capitulação do regime.

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