11 de junho de 2008

Qual o lado da barricada do governo?

Os sinais de crise são evidentes e de natureza supra-nacional, isto é, nem o governo português nem outro governo qualquer têm responsabilidades directas na escalada dos preços dos combustíveis e dos cereais. Mas todos os que toleraram ao longo de décadas este modelo de desenvolvimento têm naturalmente a sua quota de responsabilidade. Este ponto é essencial para discernir a linha de fronteira das responsabilidades do governo.

Num plano doméstico, admite-se que o governo pondere sobre as repercussões nacionais e internacionais. Que perceba com que linhas poderá coser eventuais medidas para enfrentar as dificuldades. Mas há timmings que precisa respeitar, nomeadamente, aqueles em que tem que clarificar qual a sua posição. Já lá vamos.

Ora, em momentos de crise espera-se que o governo dê sinais claros de competência, por um lado, e de solidariedade, por outro, mostrando-se disponível para se colocar do lado de dentro do cinto que o povo vem apertando. E tem aqui uma boa oportunidade para moralizar as remunerações de gestores públicos e a promiscuidade das respectivas reformas, assim como racionalizar as despesas fúteis do Estado. Entre muitas outras medidas que atenuem o largo fosso entre os que têm e os que não têm, sem prejuízo para distinções de ordem profissional. Podem começar por defender os empregos, desapertando o laço que muitos dos empregadores têm ao pescoço.

É isso ou enfrentar graves convulsões sociais, caso esta crise tenha vindo para ficar. Perante a crescente precariedade laboral (da qual o governo também é responsável), o aumento da inflação e o endividamento das famílias portuguesas (induzido pela banca e pelo governo, convenhamos), o mais natural é que os instintos mais básicos de sobrevivência se manifestem seriamente. E caso esta crise tenha vindo para ficar, é melhor que o governo escolha qual o lado da barricada em que se quer meter.

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