27 de novembro de 2008

Divagações sobre uma definição de cultura ii

Como é natural, há inúmeras definições de cultura, provenientes do mundo da filosofia, sociologia, antropologia, teologia, etc. Não interessa por agora estar a explorar essas definições. Estão nos livros nem me preocupei em retomá-los. Evidentemente, esta «divagação» não é satisfatória. Nem tem pretensões a sê-lo. É uma divagação tão lata quanto o Saara para um ocidental.

A cultura é contemporânea da satisfação de necessidades básicas. A utilização do sílex como utensílio de uso doméstico e de caça, por exemplo, representa uma inovação tecnológica com vista à satisfação de necessidades primárias de forma mais eficaz (um corte mais perfeito, uma melhor captura e com menos riscos para o caçador, quando o sílex foi acoplado a uma lança para arremesso). A utilização de cestos de verga na recolecção de alimentos, a adopção de peles de animais para combater o clima, etc., etc. Esta é, grosso modo, aquela parte da cultura que vulgarmente se designa «material».

Mas podemos admitir que, gerada pela natureza, a cultura opera entre outras coisas uma moldagem dos instintos humanos. Esta é a parte da cultura conhecida por «imaterial» e que implica um conjunto de referências, valores e normas sociais. O que é a obrigatoriedade de satisfazermos as nossas necessidades fisiológicas em determinados compartimentos específicos para o efeito, daí resultando uma clara repressão sobre a natureza? Como é bom de ver, é pouco ou nada razoável cagar fora do penico, sob pena de coacções, zombaria ou, pior, atribuição ortopedico-administrativa de uma condição psico-social pouco fascinante.

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