24 de novembro de 2008

O problema «corpo-mente»

Mãos cruzadas atrás das costas, pernas curtas atarracadas nas botas de cano alto da cavalaria e cintado pela farda impecável, o alferes parecia muito mais imponente do que a sua real dimensão aconselharia à avaliação de qualquer civil inexperiente nas coisas da tropa. O olhar sarcástico e sorridente foi subitamente enfeixado por uma exclamação enigmática e desafiadora. Inusitada, até porque já nos havíamos habituado a um registo de verbalização tão linear e directo quanto o prosaico raciocínio exibido até aí.

- «Vocês nem imaginam aquilo que um corpo humano é capaz de suportar…»

Enigmática, porque sugeria a dose de conhecimento empírico que todos esperaríamos não confirmar nas aptidões do alferes. E desafiadora, porque nos catapultava a nós próprios para uma dimensão de descoberta que talvez não fosse assim tão gratificante para alguns.

- «Vocês nem imaginam aquilo que um corpo humano é capaz de suportar…»

Passados 14 anos, sinto-me confortavelmente à vontade para declinar aquela viril e irreversível convicção, fantasiada certamente no decorrer de algum filme do Silvester Stallone.

- «Vocês nem imaginam aquilo que uma mente humana é capaz de suportar…»

E a paciência que se tem que ter quando, dia após dia, confirmamos que afinal, a quadratura cerebral do oficial não era deformação da tropa. É sim, coisa dos homens! O ar que aflui ao cérebro não é suficiente, como tal, «vocês nem imaginam aquilo que uma mente humana é capaz de suportar…»

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