4 de novembro de 2008

O regresso das nacionalizações

Miguel Cadilhe, antigo ministro das finanças e actual presidente do falido BPN, insurgiu-se contra o Banco de Portugal e contra o governo por não terem atendido às suas pretensões, optando antes por retomar uma prática abandonada depois de 25 de Novembro de 1975: a nacionalização de uma entidade privada.

Miguel Cadilhe, homem supostamente vergado pela responsabilidade de ter sido ministro da república, pretendia nada mais que uma injecção de capital público, possivelmente para continuar a dar largas ao devaneio.

Miguel Cadilhe, economista, acusou o Banco de Portugal de passividade fiscalizadora (algo a que não nos opomos). Mas não percebemos muito bem qual o alcance da acusação porque, independentemente da altura em que foram detectadas as irregularidades, o certo é que elas existem. E quem, antes de mais, deveria ter conhecimento delas era justamente o presidente do BPN. Para delas dar conta o Banco de Portugal.

Seja como for, o regresso da nacionalização (esta e as que, contra as expectativas mais lunáticas, foram realizadas nos EUA) sugere desde logo várias leituras. Em primeiro lugar, permite confirmar que o actual sistema guiado pelo mercado não funciona nem dá garantias à democracia: as desigualdades persistem e o desrespeito pelos direitos humanos mantém-se. Além disso, como se viu no caso do BPN e do BCP, o princípio da boa fé é mera figura decorativa. Portanto, em matéria de responsabilidade cívica, a banca portuguesa é tão idónea quanto o pequeno transgressor. Em segundo lugar, estas medidas poderão ter um efeito dissuasor e didáctico por afirmarem que o desenvolvimento social, político e económico não respeita a linearidade com que muitos poderiam contar. Se for preciso nacionalizar, que se nacionalize. Mas sem dramatismos nem comichões ideológicas.

A direita acusa o governo de «capitalismo de Estado». Provavelmente a direita tem acções e poupanças em outros bancos, digamos, menos populares. Além disso, se dentro de algum tempo o Estado vier mesmo a lucrar com a venda das acções que detiver no BPN, óptimo! Talvez dê para compensar os milhões em que o Estado é espoliado anualmente pela banca.

2 comentários:

Anónimo disse...

Vivemos numa república das bananas.
Um banco com um buraco de 700 milhões é salvo pelo estado. Quem ficou com os 700 milhões? E os administradores o que lhes acontece?
A culpa é de quem?

O que me entristece é este encolher de ombros dos portugueses, para quem tudo isto é normal.É normal o pobre ser roubado e explorado pelo rico, sempre foi assim na história. Até que os pobres se unam e não se deixem vencer por esta economia selvagem de ladroagem sem ética nem moral.

Anónimo disse...

Vivemos no país da impunidade, só para alguns.
Aos pobretanas que se atrasam a pagar as contas, é-lhes logo aplicado juros nas facturas seguintes. Aos administradores que levam os bancos à bancarrota, saem com indeminizações chorudas