5 de junho de 2009

Campanha trauliteira

Os políticos não estão bem. Definitivamente. Desta campanha eleitoral fica uma sintomática necessidade fisiológica de disparar directamente uns sobre os outros, como forma de conquistar ténues vantagens políticas que lhes permitam ganhar alento para as eleições legislativas e autárquicas. Em contrapartida, as panças cheias de Europa redundaram no mais ímpio desprezo pelos eleitores e cidadãos deste país.

A respeito da campanha para as eleições legislativas, mascaradas de europeias, Sócrates acusa a oposição de só saber “falar mal do governo”. Dentro de limites éticos e legais, à oposição é reservado o direito de se opor, de criticar. Além disso, não me lembro de o candidato Vital Moreira ou o próprio Secretário-geral do PS terem, de algum modo, mimado os seus oponentes com piropos românticos. As acusações e insinuações de ligação do PSD a casos de corrupção ocuparam mais os dirigentes socialistas do que qualquer assunto relacionado com a integração europeia, o Tratado de Lisboa ou a adesão de novos países membros.

Paulo Rangel, candidato social-democrata, dispara com uma atoarda atordoante: «basta de socialismo na sociedade portuguesa». O homem revela ser um notável aluno de Manuela Ferreira Leite, ficando a curta distância da grande marca identitária anunciada pela própria anciã quando suspirou dizendo «a democracia devia fazer uma pausa de seis meses». A sageza do homem, encontramo-la na oportunidade que escolheu para fazer tal declaração, particularmente numa altura em que o desemprego sobe em flecha, as desigualdades sociais são agravadas e as tensões sociais começam a deixar de estar só latentes.

Francisco Louçã, por seu turno, termina uma campanha que até tinha sinal positivo, com uma paródia infantil e sem graça a um Paulo Rangel saído da cama aos pulinhos, de camisola laranja, trauteando «ninguém pára o Rangel». O veneno ressabiado que, por vezes, não se compreende.

Nuno Melo, convencido da sua inevitabilidade, exibiu a habitual prepotência e populismo em grande nível. Ao nível do grande trauliteiro de onde bebe tanta imbecilidade. Mas o melhor da sua campanha foi o trunfo que sacou da cartola a dado momento, provando junto da populaça aquilo que os tribunais é que têm competência para decidir: a negligência da supervisão do Banco de Portugal no caso BPN. Não se podia esperar mais e põe o Parlamento em maus lençóis.

A dada altura, o PCP esboçou uma vã tentativa de discutir a Europa mas cedo, tanto Ilda Figueiredo como o Secretário-geral cederam às pressões externas e à deriva ruidosa e inútil desta campanha eleitoral. Não mostraram ser diferentes.

A nós, resta-nos votar no domingo.

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