29 de setembro de 2009

O discurso de Cavaco

Quando Cavaco Silva decidiu candidatar-se à presidência da república não tinha seguramente em mente a interpretação de um papel secundário. Afinal, não fora também ele uma vítima da coabitação divergente movida pelas constantes intervenções, fiscalizações sucessivas da lei, recados e esse mimo de desgaste do governo que foram as presidências abertas de Mário Soares?

Talvez com menos estilo e sentido de oportunidade, Cavaco reclamou sempre o protagonismo saboreado noutros tempos. O record de vetos presidenciais, o flop da comunicação ao país na sequência do Estatuto Político-Administrativo dos Açores e, agora, o tiro para as nuvens de hoje, configuram uma decepcionante necessidade de afirmação.

Mais uma vez, o Presidente da República convocou o país para mandar recados aos partidos e, francamente, não elucidou fosse o que fosse sobre a questão essencial: há ou não suspeitas de escutas à presidência da república ordenadas pelo governo?

Por que razão afastou um homem da sua confiança - Fernando Lima - da assessoria de imprensa, mantendo-o na Casa Civil? A meia dúzia de dias das eleições legislativas...com que objectivo? Não foi, certamente, por ingenuidade...

Como é evidente, por muita especulação que possa ser fantasiada pela comunicação social (especialista nessa matéria dos rumores e da irresponsabilidade), pelos comentadores, pelos políticos e por mim, o certo é que quem desviou as atenções foi Cavaco Silva, quando decidiu dar cobertura a uma notícia supostamente infundada (segundo a sua convicção) e quando, não a repudiando liminarmente, decidiu pronunciar-se sobre este assunto após as eleições. Com isso, manteve o tema a pairar durante as eleições, tramou o PSD e desgastou a sua própria imagem.


2 comentários:

Ana Carla disse...

nisto só há uma leitura: é óbvio que o governo anda a espiolhar o que faz o presidente da república. Não sei se faz escutas mas tem interesse em saber naquele caso em concreto que tipo de colaboração com o PSD tinham os adjuntos do presidente. não restam dúvidas.

Anónimo disse...

só uma leitura?
não existem interpretações absolutas