12 de outubro de 2009

Autárquicas 2009

É natural que o PS tenha a tendência de extrapolar resultados das eleições autárquicas para o plano nacional, procurando retirar daí alguns dividendos. Mas esse é um pressuposto errado porque a percentagem nacional não tem correspondência com a quantidade de maiorias registadas nos 308 concelhos e nas 4260 freguesias. Há, efectivamente, uma considerável subida do PS. Mas insuficiente para contrariar a primazia autárquica que PSD ainda detém. O BE perdeu porque não alcançou os seus objectivos e admitiu a derrota com humildade, ao contrário da CDU, incapaz de se desprender de uma leitura tornada costume mas que se perde no relativismo sem termo. Líder de um partido fidelizador de eleitorado, Jerónimo de Sousa tem boas razões para reflectir sobre a perda de 4 câmaras*, uma das quais para um movimento independente (Sines). O CDS, esse, não tem razões nenhumas para extrapolar resultados, embora a sua implantação autárquica em coligações com o PSD seja assinalável. 

No Distrito de Évora, a correlação de forças alterou-se e a consequência imediata deverá passar pela entrega do controlo da Associação de Municípios do Distrito de Évora ao PS.

A primeira nota de destaque neste distrito vai para os concelhos em que houve mudanças. Desde logo, em Viana do Alentejo e Vila Viçosa, ganhos pelo PS à CDU. E, também, aos concelhos em que os movimentos cívicos saíram vitoriosos (3 dos 7 movimentos em Portugal). Neste campo, Alandroal regista a vitória suada de um grupo de cidadãos saído de uma cisão socialista e, em Estremoz, o antigo autarca comunista re-conquista o concelho ao PS, agora sem o apoio da CDU. No Redondo, a população consagrou a «abaladiça» de Alfredo Barroso com uma subida de 10 pontos percentuais, convertendo eleitoralmente esta candidatura na mais bem sucedida do país.

A segunda nota de destaque vai para os concelhos cujos executivos não foram destronados porque, à excepção de Évora, todos eles subiram eleitoralmente, legitimando as linhas de intervenção seguidas durante o mandato que termina: Arraiolos, Vendas Novas, Montemor-o-novo, Mora (CDU), Redondo (MICRE), Borba, Mourão, Reguengos de Monsaraz e Portel (PS). Este facto não deixa o autarca socialista José Ernesto d'Oliveira numa situação confortável à frente da principal câmara municipal do Alentejo.

Com o PSD galopante a acumular boas votações desde 2001 (de 8% subiu para 14% e, ontem, para 17%), fruto do «fenómeno» António Dieb e com a CDU a arrancar 2 pontos percentuais, o PS local não esconde o desgaste da governação e perdeu quase 4 pontos percentuais. A contestação popular tem subido timidamente de som num contexto macroeconómico difícil mas que não colhe validade para justificar a desaceleração iniciada logo após as eleições de 2001 (de 45% desceu para 43% e, ontem, para 39%).




*A CDU perdeu 7 câmaras municipais e conquistou 3, resultando num saldo negativo de 4 câmaras.
Informação adicional, motivada pela necessidade de clarificação na sequência de um comentário a este post 
(12/10/2009 - 15:00)



4 comentários:

Anónimo disse...

A CDU ganhou três câmaras. É apenas um acrescento de informação para tornar esta leitura destas eleições mais isenta.

"ps e psd trocaram cãmaras entre si, mas a cdu perde cmaras", isto é o que passa nos telejornais pré formatados e que de isenção não têm nada.

Pelos vistos o que aqui leio, não é diferente da formatação de informação em Portugal. Tenho pena.

ARV disse...

Este post não foi concebido para fazer a contabilidade do que ganhou ou perdeu qualquer dos partidos. Por essa razão, não se aludiu às trocas de executivos em Faro ou Leiria nem às performances do PSD no Porto, do PS em Lisboa nem da CDU em Setúbal.

A referência às perdas da CDU é motivada pela tradicional implantação desta coligação nos concelhos perdidos e pela bem documentada fidelização partidária comunista (lida a partir de uma perspectiva científica). Este tipo de leitura nem sempre se aplica a outros concelhos e partidos. Só a título de curiosidade se faria menção a quedas de câmaras como Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Ponte de Lima ou Braga. Da mesma forma que não se fez referência aos casos, esses sim, explorados e mastigados pela comunicação social: Oeiras, Felgueiras, Gondomar e Marco de Canaveses.

Essa referência é também motivada pelo discurso de Jerónimo de Sousa, só compreensível num quadro de mobilização interna do partido. Ao contrário das legislativas (CDU conseguiu aumentar o número de deputados), ontem, na contabilidade autárquica, perdeu o controlo de 4 municípios porque sim, conquistou 3 e perdeu 7.

Objectivamente, o PSD e a CDU perderam câmaras municipais. O PS ganhou. O BE e o CDS conservaram as que têm.

Além disso, cumpre explicar que este não é um espaço de afirmação ideológica de qualquer partido, reflectindo somente as leituras mais ou menos aproximadas da realidade que o seu autor aqui publica.

Finalmente, não se me oferece outra coisa senão refutar em absoluto a acusação de parcialidade essa sim, parcial.

Anónimo disse...

Não é que não tenhas sido isento mas o facto de teres indicado a perda de 4 municípios na contabilidade municipal da CDU e não o teres feito em relação aos outros partidos políticos, dava a sensação de alguma atenção especial com a CDU...

E se há característica que reconheço em ti, é a auto-crítica... Já te vi mais longe.

Anónimo disse...

Ao contrário de legislativas e europeias, os resultados autárquicos para a CDU não foram os melhores mas não quer dizer que esteja acabada. Sei que não é isso que queres dizer mas por vezes há aí um anticomunismo... claro que também há entre nós pessoas incapazes de ver as coisas sem ser pelos tais óculos. A cdu avança. e avançará ainda mais quando o bloco se lhe unir.