29 de dezembro de 2009

«Meu filho, minha independência»

A propriedade de seres humanos foi, até há um par de séculos atrás [século XIX, tendo sido Portugal o primeiro país a abolir integralmente a escravatura em 1869] uma realidade instituída, um abjecto privilégio para uns e uma tenebrosa condição para outros. Motivada historicamente por justificações inconcebíveis à luz do direito internacional actual como as guerras, «superioridade» étnica e religiosa, comércio, reprodução e outras, a escravatura persiste, ainda assim, um pouco por todo o mundo. Estima-se que ainda existam cerca de 27 milhões de escravos no mundo. As redes de prostituição e a mão-de-obra agrícola são apenas dois exemplos conhecidos em países «desenvolvidos».

Paralelamente, uma das justificações para a existência da família extensa tradicional [para além da elevada mortalidade infantil, do limiar da subsistência, da inexistência de meios contraceptivos eficazes, o sentido comunitário, etc.] era a necessidade de dispor de força braçal para fazer face às dificuldades quotidianas. Por isso, os filhos tinham uma função importante ao nível da economia doméstica: depois de criados eram convertidos em força de trabalho. De tal modo que em algumas comunidades, o chamado «preço da noiva» ou dote era entregue à família do noivo e não da noiva.

No futebol profissional, acontece um pouco de tudo. Os «passes» dos jogadores são objecto de transacções comerciais, como é do conhecimento geral. Simbolicamente, o produto transaccionado são os próprios jogadores. E na prática também, sempre que ficam «reféns» de um contrato de trabalho cujas clausulas de rescisão são sobrenaturais. O facto de envolver sempre a vontade do jogador afasta a ideia de escravatura. Pois…

Mas a coisa ganha contornos lamentáveis quanto são os próprios pais dos jogadores a referirem-se aos filhos como bens transaccionáveis. É disso que se trata quando Washington Alves avisa que «quem quer comprar produto de qualidade tem que o pagar caro», pronunciando-se desta forma ligeiramente parasita sobre o valor pedido pela transferência do filho para um dos grandes da Europa.


PS: Washington Alves é pai do defesa central do FC Porto, Bruno Alves.

5 comentários:

Anónimo disse...

27 milhões de escravos?

Há muitos mais. Quem trabalha mais de 10 horas por dia não é um escravo laboral?
O código do trabalho permite que os patrões tenham escravos.
este país é um nojo.

Os trabalhadores precisam de se unir para lutar contra a escravatura

Anónimo disse...

vai mas é trabalhar malandro!

Este país estás é cheio de ronhas!

Anónimo disse...

19.49

só falo com quem usa argumentos o resto é-me indiferente

Anónimo disse...

@20:02

és é um pequeno burguês com a mania que és explorado! e, ainda por cima, elitista...

olha lá, não te pagam ao fim do mês????

ah, já sei, no fim do teu terrível dia de trabalho, fecham-te numa cave, às escuras, acorrentado e alimentam-te a pão e água. é isso? ah, e também te dão umas bordoadas se dizes que o pão tá duro ou bolorento, não é?

vai trabalhar, pá! é por causa de tipos como tu que este país está como está. sempre a queixarem-se de tudo e a não fazer nada para mudar ou produzir o que quer que seja. só tens o que mereces.

calão!

Anónimo disse...

Como recebo salário ao fim do mês então é melhor estar caladinho e não ver que existem 2 milhões de pobres em portugal é isso?
É melhor não pensar e ser uma pessoa alienante?
O ideal para ti será andarmos todos na ordem?
Desde que coma pão e água já me devo dar por feliz e não exigir mais, é isso? Iria perturbar, não é?