5 de fevereiro de 2010

Muito para lá da ideologia

A habitual gigajoga partidária não só não tem limites como pode ser verdadeiramente boçal. Os partidos políticos esgrimam furiosamente argumentos para justificar o seu apoio (oposição parlamentar unida) ou a sua recusa (PS) à alteração da Lei das Finanças Regionais.

De um lado, temos a crise, temos o despesismo, temos a segunda região com rendimento per capita mais alto do país (independentemente do empolamento motivado pela condição de off shore), temos o elevado défice das contas públicas, temos a eterna chantagem do rei madeirense, temos a caixa de pandora que se abre aos 308 municípios altamente condicionados na sua capacidade de investimento, temos a moralidade do Estado, temos o congelamento dos salários...

Do outro lado, temos os ataques ao despesismo do governo que desagua num défice público histórico, temos a milimésima proporção do montante em causa - limite de 50 milhões de euros de endividamento - temos a subsiariedade, temos a vitimização do governo e a pressão exercida sobre a oposição e temos toda a despesa faraónica que o governo se prepara para incluir no Orçamento de Estado, desde logo com TGV's, aeroportos, etc.

O que não tinhamos era a convergência do BE e CDU com a direita. Nem o argumento irresponsável da artificialidade e dramatização da crise, defendido por Ana Drago (BE) ou Octávio Teixeira (CDU), entre outros.

Para que conste, estamos num país em que a dívida pública é, no mínimo, 9,3% do PIB, estamos num país altamente endividado (quer o Estado quer os particulares), estamos num país que não cria mais-valias, estamos num país em que o desemprego já atingiu os dois digitos e estamos num país que viu crescer substancialmente os apoios sociais organizados pelo Estado e pelas ONG's. Portanto, num país em que a miséria começa a abrir o postigo da porta de casa...

Fica-lhes mal. E fica mal a oportunidade com que se juntaram para dar uma bofetada ao governo. Com tantos dias que tem o ano... e com tantas formas de o fazer, não é compreensível a desdramatização da crise pelo BE e pela CDU.

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