11 de maio de 2010

A metafísica do vinho

"[O vinho] tira-nos da tristeza e do cansaço do dia-a-dia e faz do estar juntos uma festa. Alarga os sentidos e a alma, solta a lingua e o coração; e transpõe as barreiras que limitam a nossa existência".


Para ter a honra de ser citada, a declaração anterior teve que ser proferida por alguém deveras importante. Caso contrário, teria sido indevidamente apropriada por mim, sombra de criatividade e de autonomia intelectual. Atendendo ao conteúdo e à mensagem, pode muito bem ter saído da cabeça de Boris Ieltsin, o malogrado presidente russo, antes de sucumbir num qualquer canto do Kremlin. Porém, como se sabe, a perdição do homem não era vinho. Era vodka. Talvez algum bagaço, para impressionar os amigos lisboetas proprietários de montes no Alentejo. Mas também poderia ter pertencido a um inspirado artista em decadência e com falta de dinheiro para coca. Ou, simplesmente, a um executivo de Wall Street, depois de um intenso e stressante dia de trabalho, apesar desta malta julgar que vinho é uma qualquer variação de whiskey.

Ora, a beleza desta frase não radica apenas na verdade insofismável que encerra. Radica, igualmente, no seu brilhante criador e na santa legitimidade que qualifica o mais alto representante d'Ele na Terra, o príncipe dos príncipes. Embora numa época em que apenas o Senhor tivesse conhecimento de quem sucederia a Karol Woytila, o verdadeiro responsável por aquela consensual afirmação é nada menos do que Joseph Ratzinger, numa homilia realizada em 1996, em Fátima. Provavelmente depois de um abastado almoço, como sói fazer-se na nossa terra. E noutras, ao que parece.

E depois, nos casos em que cai mal, vêm as crises de identidade e as confusões com a idade e o género do rebanho...

Sem comentários: